Estou em Belo Horizonte – de férias – inscrito no X Congresso Mineiro de Geriatria e Gerontologia , com o tema: “Envelhecer em um mundo em transformação: estamos preparados?”. Esse importante evento científico começou ontem (com muito sucesso de público e de crítica), continua hoje e terminará, amanhã, sábado, dia 31 de agosto, no Hotel Ouro Minas Palace Hotel, na região central da nossa bela capital. A discussão para os participantes congressistas está por conta dos seguintes assuntos: demência, neuropsiquiatria, suplementação alimentar, sarcopenia, fragilidade, cuidados paliativos, dor, tecnologias assistivas, distúrbios do movimento, instabilidade postural e quedas, osteoporose, distúrbios do sono, polifarmácia e polipatologia, distúrbios da fala e deglutição, políticas públicas e legislação, educação financeira e aposentadoria, abordagens de feridas, rastreios e prevenção primária e atenção domiciliar. Com esses conteúdos, teremos três dias, na verdade,(um já foi), restam dois, para a digestão de saberes/sabores distintos para os paladares da geriatria e da gerontologia. Entendo que participar de eventos dessa natureza no campo da gerontologia e da geriatria significa ter um momento muito rico e fecundo para a qualificação, capacitação e atualização de conhecimentos para o nosso trabalho desenvolvido aqui na nossa cidade. Como estamos em relação ao que outros colegas atuam com as pessoas idosas? Estamos no caminho certo? E, também, é um espaço de troca de experiências: entre um cafezinho e outro, “trocamos figurinhas”.
Constitui-se num ambiente em que fazemos o que a linguagem corporativa denomina de network. Faço isso em BH! Dos dez congressos mineiros realizados até então, participei de três. Em Varginha, Caxambu e agora, em BH. Sempre vale a pena, apesar de, a cada ano, ficar mais caro. É um grande investimento profissional que faço na minha intervenção profissional junto às pessoas idosas que atendo diariamente. E repasso para o meu grupo de trabalho. Felizmente, constato que tem aumentado o interesse, não, na velocidade desejada, de profissionais na área do envelhecimento. Ainda persiste uma cultura de indiferença pública e política da sociedade brasileira com a fração etária que mais crescerá nos próximos anos e que já é muito expressiva numericamente na nossa cidade, no nosso Estado e no nosso país. A conquista da longevidade precisa mexer com os nossos representantes políticos e com a nossa comunidade, no sentido da oferta de ações públicas que alcancem a realidade do universo das pessoas idosas que ainda estão longe das prioridades de nossos gestores públicos. Até quando?
Se é muito importante, por um lado, participar desses encontros científicos; por outro lado, quando a gente retorna à nossa rotina,”cheio de gás”, querendo implantar projetos novos, é necessário, é fundamental sensibilizar os nossos dirigentes públicos para a implantação desses mesmos projetos que deram certo em outros municípios e que, em nossa cidade, tem tudo também para dar certo, respeitando as especificidades e singulares de cada cidade, de cada município. Nem sempre a gente consegue. Nossa articulação em rede socioassistencial em torno das políticas públicas para as pessoas idosas precisa aumentar a sua representação política. Que bom que já temos a eficiente Comissão Permanente dos Direitos da Pessoa Idosa na Câmara Municipal e um fórum coletivo de participação social para o fortalecimento da cidadania das pessoas idosas. Um outro organismo público, de vivência coletiva muito importante, e que eu considero uma experiência de inspiração para outros países é a existência da Câmara Sênior. Constituída por pessoas de mais de 60 anos que têm contribuído para o exercício do seu protagonismo social e político na indicação e apresentação de demandas que lhes dizem respeito diretamente, mas sem perder a visão da totalidade de que é feita a nossa cidade em todas as idades.
Talvez já seja bem manjado e por demais conhecido do leitor e da leitora, mas penso que vale a pena aqui apresentar um pequeno achado do poeta português José Saramago, quando ele nos diz assim: “É preciso sair da ilha para ver a ilha. Não nos vemos se não saímos de nós.” É o que me move no fundo e por dentro. Conhecer outros profissionais, outros trabalhos e outras realidades para definitivamente saber como estou. E eu só cresço se tiver em relação com as pessoas. Por isso, o trabalho social e público com as pessoas idosas me acrescenta tanto na dimensão humana e profissional.