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A alegria das pequenas coisas!

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A vida para mim é um dom de Deus. É um gesto único. O maior de todos na humanidade que expressa amor. Todo amor. Amor, sentimento esse, maior de todos, que não é ensinado na nossa convivência familiar. Não faz parte da rotina do nosso lar. É fundamental que ao nascer, crescer, envelhecer e morrer não deixamos de ter a pedagogia do amor. Eu tenho vida porque meus pais me deram. Esse é o meu maior presente. E aqui, começa para mim a presença de Deus na minha vida. A educação que recebi, e acho que a de muita gente da minha geração e classe social, na melhor das intenções e possibilidades, ficou muito ligada à aprovação social de outras pessoas, diante do encontro, começando por pessoas da família. O estímulo recebido em casa para ir ao encontro do que eu sinto como pessoa e da projeção do eu seria na vida adulta e mais velho foi muito pequeno. Tive uma educação muito voltada para a disciplina e a obrigação. Principalmente para os estudos. O que me libertou da pobreza de não sonhar e de não desejar voar. O estudo é a luz da vida. Obrigado, mãe! Na profissão de Assistente Social aprendi que é na convivência com as pessoas que eu fortaleço as minhas vontades e desejos de ser quem eu desejo atingir.

Feito essas pequenas reflexões iniciais, quero dizer sobre as miudezas do cotidiano. O que está prenhe de sentido e de prazer. A felicidade não está fora da gente. Está dentro. De como eu percebo as coisas. Infelizmente, o movimento frenético, veloz e mecânico da sociedade embaça nossa visão sobre as nossas necessidades emocionais e espirituais. Para que tanta correria. Corremos de que ou para quê? Acho que é mais fuga de nós mesmos. Me permito e cada vez mais, vou nessa direção de que é preciso olhar a vida ao lado. Ver o que se passa diante de nossos olhos. Descer e subir o Calçadão como se fosse a primeira vez. Ressignificar, palavra da moda, as nossas amizades. O nosso cotidiano. Descobri há tempo, pela literatura da Clarice Lispector, que o extraordinário está no ordinário. Ou que o sobrenatural está no natural. Ou que tudo me diz alguma coisa. Principalmente o silêncio e o que as palavras não alcançam.

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No trabalho social com as pessoas idosas, eu encontro a poesia. A literatura. Retenho a expressão de vida dessas pessoas que me iluminam como ser humano, apesar de todo sofrimento que elas compartilham comigo. Elas me mostram o quanto o amor é base de toda a cura de nossas doenças. Amor que se revela, aí sim, nas miudezas dos gestos, das intenções, das palavras, do abraço e do aperto de mãos. Longe dos tempos de pandemia, de hoje. Nessa toada da convivência profissional, naturalmente, que levo para os meus dias o que recebo das oito horas diárias trabalhadas com as pessoas idosas. Muita lição de vida.

O que fica é o valor e a importância do encontro humano. Que é cada vez mais necessário. Idades humanas que se falam. E eu buscando
colocar os mais idosos na roda da sociedade, da família e do contexto diário da cidade. Aprendo a lidar como movimento histórico e político da realidade. Uma realidade de preconceitos, de tabus. Realidade ainda de pouca valorização ou quase nenhuma das pessoas que tem mais idade. Até quando? Se já somos e seremos cada vez mais pessoas idosas por conta do aumento de nossa longevidade. Viveremos com mais tempo de vida. Aprendi também com a vivência de trabalho com as pessoas idosas, que a única ambição de que não abro mão é a de ser uma pessoa melhor. De seguir em frente sem ter tirado o tapete de ninguém. De buscar o coletivo. Seguir com alegria. Com leveza de alma. Eu me expandi como pessoa, no reconhecimento de que o meu trabalho é muito, mas é muito maior do que eu. Porque ao invés de uma pessoa, ele atingiu muitas pessoas. E claro que a sensação que me visita enquanto escrevo essa crônica é a de que meu tempo esticou, de que vivi muitas experiências que me jogaram para o futuro, além de mim mesmo. Na verdade, quando a gente se emociona, eu imagino que a energia vai para bem além do que a gente possa imaginar.

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