Na coluna do dia 6 de março, escrevi sobre o coronavírus. Fiz uma alegoria textual, mesclando momentos de brincadeiras e instantes de muita seriedade e preocupação que esse tema nos traz nos dias que correm. Há 15 dias passados, mais ou menos, o vírus estava no estrangeiro. E hoje, me desculpem, o trocadilho religioso, está no meio de nós. Mais perto do que nunca. Inclusive devo confessar, mudei a minha postura diante dessa realidade. Como muitas pessoas, estou ansioso, e me cuidando através de comportamentos preventivos e de defesa, diante das informações sérias e confiáveis que busco no dia-a-dia. E as repasso também. Tendo em vista que meu cotidiano é compartilhado com o grupo de pessoas mais vulneráveis e frágeis perante o vírus: as pessoas idosas. Encontro muita conformidade instalada em algumas cabeças de pessoas de idade. Aqueles com os quais mais convivo, sobretudo os de classes sociais mais populares, têm uma consciência mágica diante do mundo.
Ouço frases como “já passei por muitas crises”; “isso é prá ganhar dinheiro”; “é exagero da imprensa”; “Deus está no comando”. São expressões desencontradas e que revelam o quanto algumas pessoas idosas; notadamente essas colocadas num quadro social-econômico mais baixo, não têm, também, direito à informação ou o que acontece no mundo não chega até elas. E estas, certamente, serão as mais prejudicadas e correm o risco de morte eminente.
Nosso mutirão educativo e informativo sobre a presença real do coronavírus está sendo feito todos os dias junto às pessoas idosas que atendemos. A situação beira um estado de pânico, mas efetivamente, o comportamento objetivo de mudanças de hábitos é muito pequeno. Há muitas resistências, sim. Como evitar um aperto de mão espontaneamente aberto por um senhor que a gente atende? Isso pode gerar até um mal maior: uma sensação de desprezo e de indiferença. Um contrassenso? O que mais eu aprendi nessa relação profissional com as pessoas idosas que participam dos nossos programas sociais públicos é que eles e elas querem acolhimento, atenção, respeito e expressão de afeto. De uma hora para outra, mudar de comportamento, ficar distante afetivamente e socialmente por causa do vírus, fica difícil. Precisamos de muito esforço coletivo de trabalho educativo para informar o público idoso de nossa cidade.
Novos hábitos de vida são fundamentais, salvadores para a manutenção de nossa vida. Pessoas idosas, fiquem em casa! Evitem frequentar espaços socias de aglomerações. O Pró-Idoso da Amac está fechado, temporariamente. Podem acreditar. É para o bem e segurança de vocês, caros leitores e leitoras da Terceira Idade que me prestigiam com a leitura dessa crônica e que participam desse importante Centro de Convivência. Claro que tudo isso vai passar. Não sabemos, quando. Todo cuidado para a autoproteção é extremamente necessário. O que está em jogo é a nossa capacidade de solidariedade, a nossa cultura cívica de agir pela coletividade. Se tem uma lição a ser tirada desse momento de instabilidade existencial que estamos vivendo, com a chegada do coronavírus, na minha opinião, é a de que necessariamente dependemos muito um do outro, do colega, do vizinho para ficarmos de pé na vida. É por amor a outra pessoa que eu devo ficar em casa. Mesmo contrariando a nossa educação expansiva no afeto, nesse momento, é preciso se conter. Vamos inventar outras formas para abraçar, beijar e apertar as mãos. Não vamos perder as expressões de nossos sentimentos. Vamos por força da proteção do vírus, criar outras formas de demonstração de que o amor move e revoluciona o mundo.
Uma constatação: não podemos deixar que a nossa vida fique chata. Apesar do coronavírus. Vamos viver. Vamos construir nossos sonhos. Em breve, estaremos com a alegria na alma e ganhando as ruas, por hora, vazias de gente e de ruídos urbanos típicos de uma cidade que atendeu ao chamado dos especialistas de saúde e preferiu ficar em casa. Como deve ser. Às pessoas idosas, meu palpite final. Façam de suas casas o melhor lugar do mundo para se viver. Não só para esse momento de coronavírus, mas para todo o sempre.