No início dessa semana, tive a honra de ser convidado para a abertura da Copa 60+ de Fut 7, no Clube Bom Pastor, segunda edição. A primeira já foi um grande sucesso! Trata-se de uma promoção louvável da Secretaria de Esporte e Lazer da Prefeitura, com o apoio sempre presente do grupo Bahamas. Devo dizer a vocês, que vivi um momento mágico, emocionante, na noite de segunda-feira passada. Lavei a alma! Porque foi pelo futebol que eu tive o meu pai. Jogamos muita bola juntos. As inesquecíveis peladas de sábados, à tarde, na Rua General Gomes Carneiro, no Bairro Fábrica. A rua do 10º Batalhão de Infantaria. Um pouco íngreme, facilmente a bola ganhava velocidade e chegava à Rua Bernardo Mascarenhas. Quantas bolas não foram estouradas pelos pneus dos ônibus? Muitas. E, ás vezes, a pelada só estava no início. Parar, que nada! O show tem que continuar. Meu pai pegava o seu carro, um fusquinha branco, saía à mil e chegava com outra bola. Como um super-herói, era aclamado por todos nós. Que orgulho eu sentia dele! Ato de bravura maior, não podia existir! E o couro comia solto. Até anoitecer. A semana era boa por causa do sábado à tarde. Meu pai era viajante, representante comercial. Vendedor da Incolafer e de outras representações comerciais. Sábado, à tarde, quando ele chegava de viagem, não trocava nada com a minha mãe, o que trocava, era de roupa, como numa bala, super apressado, deixando peças pela sala da casa, o que enfurecia minha mãe, e com a bola já debaixo do braço, agigantava-se e partia direto para o “campo”. Que campo, que nada!. Era puro asfalto a rua onde morávamos! Só que, na nossa fantasia, era o nosso Maracanã. Meu pai tinha o chute forte da canhota e o cabeceio certeiro e firme, como sendo seus trunfos pessoais para furar os goleiros. Chutava muito forte e, como usava bigode, não foi difícil para ele ser tratado pela torcida e pelos próprios colegas como o Riva. O Rivelino do asfalto! E pegou o apelido. Para além das peladas de sábados. Ele gostava disso e se envaidecia.
Essa lembrança foi proporcionada pela minha presença na abertura da Copa 60+. Me fez lembrar do meu pai, um peladeiro de marca maior. E que, pelo futebol, nos aproximamos cada vez mais. Abraçávamos mais pelo gol feito por um de nós dois, do que na nossa rotina formal, de pai e de filho, de dentro de casa. Até porque, como viajante, ele não parava muito em casa. Foi um pai presente apesar de sua ausência motivada pela sobrevivência material. O futebol tem esse poder. De reunir pessoas e de manter e fazer novos amigos. Esse me parece ser o principal mensagem dessa Copa 60+. Envelhecemos sim, mas, necessariamente, não deixaremos de fazer o que a gente mais gosta e ama. No caso, jogar futebol com os amigos. Não há coisa melhor para se fazer. Mesmo com os cabelos brancos. Além de me trazer o meu pai, a Copa, me traz o desejo, me renova, por também ser um peladeiro, hoje, fala-se boleiro, de que em algum momento da minha vida, tive a oportunidade de me tornar jogador profissional de futebol, nos anos 80 do século passado. Vida que se segue.
O futebol representou muito na minha vida, como ficou claro acima, no relato da convivência com o meu pai. Meu pai foi o meu herói. Desde moleque que a bola me alegrava os dias. O futebol, a partir dos meus 10 anos, era o meu mundo, a minha fantasia. Eu jogava bola o dia inteiro. Hoje, já quase um sexagenário, me contento em acompanhar pela TV e pelos jornais impressos. E, no esforço de, com menos peso, retornar ao convívio semanal todas as quartas-feira, na Pelada dos Carecas. Foi assim com o meu pai, foi assim como o meu filho, Pedro. Outro boleiro também. Jogamos os três juntos. O futebol, de novo, na reunião da família. A Copa 60+ é muito rica no seu simbolismo para todos nós, que amamos o futebol. A verdadeira rede social de relacionamentos.
Como não poderia deixar de ser, nessa crônica de hoje, dessa sexta-feira, dia 17 de maio, eu desejo homenagear meu pai, José Adalberto da Silva, o Daú das Gaiolas, o Rivelino do Asfalto, pela passagem do seu quinto ano de morte entre nós. Que pela rica memória que deixou em todos nós e em mim, jamais morrerá. Muito obrigado, pai. Vamos passar logo o recibo, porque esse jogo está ganho: assim, ele referia-se à partida, quando seu time estava na frente no placar. Vamos passar logo o recibo! Pelo futebol, tive o meu pai. Essa é a grande lição que ficou para mim. Por isso, eu amo o meu pai, por isso, eu amo o futebol. Apesar dos pesares, vivemos em outros tempos. Outras maneiras de ver o mundo. A bola é um grande negócio. Enquanto isso, vamos resistindo, batendo nossa bolinha despretensiosamente todo final de semana.