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Já vi esse filme: lá vem o 7×1

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Na minha rotina doméstica de convivência com uma pessoa idosa com o diagnóstico da Doença de Alzheimer, percebo e sinto o quanto é duro e difícil estar presente no silêncio do meu desejável interlocutor. Desejável, porque a troca de assunto, de conversa sobre o dia a dia se dá em outro plano, em outra dimensão que não de ser humana, também. Um silêncio que corta e por isso dói, incomoda, que me coloca no lugar de muita fragilidade humana. No itinerário do lar, de manhã até ir para a cama, à noite, dormir, as pegadas, que só são vistas pela compaixão não variam: a vontade incontrolável de comer, o cigarro aceso que alivia as dores da alma, principalmente, as do passado, as relações assimétricas com os pais, melhores com a mãe do que com o pai. Muito repressor e ignorante, que, sem pudor nenhum, “pulava muro” e satisfazia seus interesses sexuais, na força do medo e de uma falsa moral. Vivemos juntos, fisicamente, mas a comunicação anda longe.

Pela janela que hora fecha, e hora abre, passam e entram pensamentos de lá de trás. Um repertório conhecido que, para meu alívio, preciso fazer dele algo sempre novo. Aquela velha história.Como se eu a conhecesse pela primeira vez. Não é fácil! O conteúdo das falas repetitivas prendem-se ao roubo do carro, ao cigarro que acabou, à filha que ainda não chegou, à ajudante que já foi embora e não fez almoço até agora. Essas falas não saem de casa e ficam no ar. Na minha cabeça, no meu exercício de resiliência. Na minha capacidade de me proteger, de me abstrair. E até usar, de algum aspecto, de bom humor, de brincadeiras, de também não pensar sobre o que eu estou falando. É um cansaço só. Enquanto ela dorme no sofá da sala, com a janela aberta, no último dia de janeiro, com esse calor senegalês, e esquece de ver a mata de que tanto gosta, eu fico produzindo matéria para o meu laboratório de envelhecimento e também poder dividir com você leitor, com você leitora dessa coluna, o que acontece comigo dentro de casa.

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Há quem diga assim, pata você é mole, você é da área. Ao que eu respondo, é completamente diferente uma situação da outra. Seria o mesmo que afirmar, por ser médico, eu não adoeço nunca. Nada a ver. Sofro, choro, como qualquer pessoa que atendo profissionalmente no meu dia a dia, diante de uma situação-limite envolvendo uma pessoa idosa que precisa de cuidados intermitentes.

Com o passar do tempo, a doença vai ganhando mais a inexpressão da pessoa. O andar, a fala, a autonomia e a independência tornam-se mais presentes e vem o aumento da necessidade de cuidados diários mais permanentes e mais frequentes. A limitação do contato social exterior acontece, sim: que pode se dar por conta da incontinência urinária ou por dificuldade de andar, ainda mais se você, assim como eu, mora em apartamento com mais de 40 degraus de escada. No progresso involutivo da capacidade funcional da pessoa idosa, aperta mais a decisão sobre os cuidadores familiares: permanecer em casa ou institucionalizar a mãe? Está colocado o conflito. Penso que é importante a participação de todos os da família e prevalecer o desejo da pessoa idosa nesse contexto, se ela tiver voz para se colocar. Ela precisa ser ouvida, se esse for o caminho a ser seguido. É lugar comum dizer isso, mas, cada caso é um caso. Não tem receita que sirva para todo mundo. Observo também, à partir da minha própria vivência familiar e também profissional, que a cidade precisa oferecer, urgentemente, espaços de tratamento e/ou residências para absorver as pessoas idosas que apresentam um quadro progressivo de dependência, como as que têm o diagnóstico da doença de Alzheimer e de outros tipos de demências.

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Assistente social e gerontólogo
(32) 98828-6941

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