Aos poucos a velhice vai chegando, quando menos se espera, ela está aí. Na MPB – Música Popular Brasileira -, com uma bonita fila de músicos e artistas maravilhoso/as que marcaram uma geração, a minha; e a de muitos de vocês, caros leitores e leitoras. Estou me referindo aos oitentões maravilhosos da nossa belíssima MPB, como Ney Matogrosso, Caetano, Milton, Gilberto Gil, Martinho da Vila, Paulinho da Viola. Do lado feminino, temos estrelas de brilho infinito, como Bethânia. Quem diria, em sã consciência, que essas preciosidades de nossa MPB estão velhas, no sentido que a sociedade classifica? Estão. Mas são diferentes. Não pararam de produzir poesia, arte e cultura. Com a idade ficaram ainda melhores.
Saindo da música e indo em direção ao campo de futebol, até porque essa semana, o Tite, convocou os seus 26 jogadores para a Copa no Catar, acompanhei pelo noticiário esportivo muitos analistas e comentaristas da área que reprovaram o nome do Daniel Alves. Por causa de quê? Seus 39 anos de idade. Idadismo na área. A velhice aqui não entra em campo. Se esse atleta reúne plenas condições físicas, mentais, emocionais e estratégicas de jogo, na avaliação do próprio técnico e de sua comissão, por que não pode ser convocado? Mesmo com polêmica, que lhe é uma condição própria, na maioria das vezes, a velhice chegou ao futebol, ao esporte, de um modo geral. Reflexo de uma sociedade que está mudando, que está envelhecendo. Em todos os quadrantes da nossa vida.
No poder, a velhice também chegou. É o que demonstrou o retrato do quadro político que saiu das urnas do mês passado. Temos um Congresso Nacional mais velho e com menos representação feminina. E com o próprio presidente eleito – Luiz Inácio Lula da Silva -, um quase octagenário, com 77 anos de idade. Pela legislação brasileira, pelo Estatuto da Pessoa Idosa, que ele mesmo sancionou em 2003, ele é uma pessoa idosa (tem mais de 60 anos de idade). Portanto, eu posso afirmar, sem medo de ser feliz, que a velhice chegou ao poder. Chegou ao Palácio do Planalto. Como chegou também em JF, com a prefeita Margarida, com 72 anos de idade e à frente do Executivo Municipal. São referências importantíssimas de um envelhecimento diferenciado, ativo e muito participativo para a melhoria das condições de vida de milhões de pessoas, aqui na cidade e no país.
O Presidente Lula, assim que teve oficialmente a sua vitória nas urnas confirmada pelo Tribunal Superior Eleitoral, colocou o envelhecimento em seu primeiro pronunciamento. Diante das câmeras e microfones de TV e aparelhos celulares, ele disse o seguinte: “o que envelhece uma pessoa não é a quantidade de anos que tem, mas a falta de causa”. O que me traz à lembrança a presença de Dom Helder Câmara, bispo católico e arcebispo emérito de Olinda e Recife, que em tempos não tão distantes assim, afirmou que “feliz de quem atravessa a vida inteira tendo mil razões para viver”. Ou seja, precisamos descobrir em nós mesmos pelo menos uma razão para viver.
É preciso ter uma bandeira na vida para defender. Uma causa. Um propósito. E podemos começar agora. É o que sempre escrevo por aqui. Envelhecer bem não pode continuar sendo um privilégio de poucas pessoas, de uma minoria. Espero que o nosso país, com o presidente Lula, e a nossa querida JF, com a prefeita Margarida, desenvolvam cada vez mais políticas públicas de atenção às pessoas idosas. E políticas de cuidados.