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Desafios do cuidado: quem cuida de quem?

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Minhas primeiras colunas aqui foram sobre cuidados que algumas pessoas dispensam a outras pessoas, principalmente das que cuidam de idosos. Realidade que participo, não só no meu dia a dia profissional, como também em minha casa, há mais de dez anos. Uma situação de vida que atinge toda a família. São muitos os caminhos a percorrer. Muitas perplexidades. Angústias e sofrimentos. Não é nada fácil cuidar de uma pessoa idosa com o diagnóstico de Doença de Alzheimer. Não estamos preparados. Não nos ensinaram. Até porque a gente acha que nunca vai envelhecer. Esse assunto não é falado em sala de aula. Não tem importância social. O que é uma grande falácia!

De todas as grandes transformações societárias que estamos vivenciando, o envelhecimento da população é uma das que precisamos nos preparar. Não só individualmente, como algo que nos pertence, mas, também, do ponto de vista público. As cidades não estão preparadas para o envelhecimento de seus moradores. É o caso de nossa cidade. Juiz de Fora precisa avançar na oferta de serviços e ações destinadas ao público idoso, notadamente, às pessoas mais dependentes e com pouca autonomia na gestão de suas atividades de vida diária, como, por exemplo, quando apresentam dificuldades e/ou limitações nas seguintes situações: no uso adequado de chuveiro, para acessar sabão e/ou esponja para banhar-se; para apanhar a roupa do armário ou gaveta e vestir-se sozinho; para locomover-se até o banheiro, despir-se e limpar-se e arrumar a roupa; para apanhar a comida do prato ou equivalente e levar à boca.

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Quando a capacidade funcional que é a habilidade física e mental para manter uma vida independente e autônoma está comprometida, como nesses pequenos casos acima apresentados, faz-necessária a atuação dos cuidadores de pessoas idosas, informais ou formais. Os cuidadores informais são pessoas amigas, da família, vizinhos que cuidam dos idosos. Cuidadores formais são pessoas que passam por cursos, treinamentos, capacitações periódicas para o cuidado qualificado. Mas a oferta de cursos destinados às pessoas que desejam cuidar de idosos ainda deixa a desejar, sendo que a procura é cada vez maior. As famílias não dão conta de cuidar, sozinhas, de seus idosos em casa. Elas estão completamente abandonadas nessa situação. Que políticas nós temos de cuidados às pessoas idosas?

Com setembro, vem a primavera. Vem também uma importante reflexão para toda a cidade. Dia 21. Dia Mundial da Doença de Alzheimer. E que, no mesmo dia, a Lei 1.1218, de 2006, de autoria do ex-vereador José Sóter Figueirôa, fixa no calendário do município o Dia Municipal do/a Cuidador/a de Idoso/as. As famílias, como já disse anteriormente, não dão conta, de sozinhas, cuidarem de seus familiares idosos que têm algum tipo de demência. Falo isso de modo próprio. A solidão de quem cuida. O estresse, a angústia e o limite humano tomam conta da gente. É o mais genuíno encontro do limite humano e o do próprio ato de amar. É uma profunda dor que te joga no abismo. No abismo de nós mesmos. Do nosso vazio. Do nosso silêncio.

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Sou da opinião de que precisamos criar alternativas de encontros para falarmos da nossa dor. Criar grupos de autoajuda ou algo parecido, para a gente não se sentir sozinho e isolado no mundo. Nós precisamos falar das nossas angústias, falar dos nossos medos, das nossas grandes inseguranças. Eu acredito que a meta mundial para o Século XXI é viver mais e melhor. Vamos começar desde já. Ainda dá tempo. Precisamos promover ações de comportamentos saudáveis. Buscar senso de autovalor. Controle do nosso estresse. Apesar dos pesares, criar um clima de otimismo no dia-a-dia. Rir de nós mesmos. Cultivar hábitos de vida prazerosos. Investir no nosso autocuidado.

O modelo de saúde pública brasileiro, embora com várias legislações específicas, bem intencionadas, ainda não contemplou um planejamento voltado para o público idoso. Precisamos avançar na construção de uma rede de atenção à saúde da pessoa idosa. Capacitar e treinar os profissionais para o atendimento a esse público que demanda cada vez mais a nossa atenção. Estamos envelhecendo na pobreza, no desemprego, na desproteção social de direitos historicamente adquiridos. Nosso futuro é incerto.

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É importante colocar, prezado leitor e leitora, que na velhice nós colhemos os frutos do que construímos ao longo do tempo em nossas relações sociais, familiares e comunitárias. Pesquisas recentes apontam que aquelas pessoas que, por um motivo ou outro, perderam ou deixaram de estabelecer/manter vínculos sociais tiveram maior chance de morrer. É o envelhecimento social, na minha opinião, é o pior deles. Não ter com quem conversar. Não receber visitas. Não ser lembrado em datas especiais, como aniversário, por exemplo. Não receber um abraço, um beijo, um carinho de alguém. São faltas que nos matam, independentemente da idade.

Novos serviços deverão ser pensados e viabilizados para o atendimento aos cuidados das pessoas idosas que precisam de ajuda de terceiros. Nosso maior medo no envelhecimento é o de depender de alguém para tocar a nossa vida. Mesmo para aqueles que têm dificuldades em aceitar a velhice, se ela vier de forma que os deixem independentes e autônomos, será muito bem-vinda. Nessa direção, para o alcance de um envelhecimento ativo, apresento algumas dicas de estudiosos da matéria. Nossos desejos são ilimitados. Nosso tempo, não. Portanto, defina suas metas, suas prioridades e faça o quanto antes, uma revisão de seus objetivos. Não desista. Aprenda a ser eficaz e ter ritmo. Qualidade de vida precisa ser sempre estimulada. E lembre-se: o amor faz bem ao coração. Cultive a espontaneidade. A sinceridade. A amizade. A alegria e o prazer nas trocas afetivas. Que venha a primavera!

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