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Eu não quero dar trabalho!

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Na página anterior a essa, que se inicia agora, eu escrevi que envelhecer nunca foi uma condição de vida de fácil aceitação pelas sociedades humanas. E que historicamente, é um tema que causa mal-estar e repugnância nas pessoas. Em muitas pessoas. O modo, o tratamento, o respeito dispensado às pessoas que envelhecem – todos nós – carregam um componente cultural muito forte – negativamente -. É por isso que eu arriscaria dizer que, de um modo geral, a humanidade deve muito às pessoas idosas: elas dão muito mais do que recebem. De suas famílias, de seus patrões, de seus países e de suas cidades. Vejamos o nosso caso. O que a cidade oferece à sua população idosa? Onde há vida na cidade paras as pessoas idosas? Há uma dívida social a ser paga aos nossos ancestrais, aos que vieram antes de nós, aos que tem mais idade do que eu. As nações e os países não contam a velhice como sendo uma fase da vida que se pode ter horizontes de futuro e novas possibilidades de existir. Mesmo com o esticamento da nossa longevidade, as pessoas idosas ainda não recebem um cuidado amoroso no cotidiano de suas vidas. Elas continuam presas, na sua grande maioria, dentro de casa, com ou sem pandemia; com ou sem muros em suas casas. Porque as ruas e as cidades não lhes oferecem segurança e bem-estar. Não há um ambiente urbano favorável à presença cotidiana dos idosos no contexto das cidades. E o nosso envelhecimento vai acontecendo. Estamos mais velhos. E nessa direção, com o passar do tempo, do nosso tempo, fantasmas e nuvens rondam o nosso quarto de dormir. Tal como a gente vive, assim a gente envelhece.

É inegável que o medo da morte está presente no desenrolar da vida. Mais na velhice? Acredito que sim. Natural que seja assim. Se bem que, desejo deixar bem claro aqui, até para desmistificar essa ideia, tão colada em nós, de que a morte é prioridade dos mais velhos. Não é. Para morrer não precisa ter idade, basta estar vivo. Penso também que o medo da morte é uma grande justificativa para a não aceitação da nossa velhice. Por outro lado, reflito que o nosso avanço na direção da velhice pode trazer um mundo subjetivo de mais calmaria e serenidade na gestão de nossas angústias e de nossas frustrações existenciais. O tempo pode estar a nosso favor. Por que não? Com o movimento de envelhecer, podemos alargar a estrada para a vivência da nossa alma e aumentar o espaço para acolher as nossas aspirações e desejos, que, muitas vezes, ficam no meio do caminho.

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Trago aqui para essa conversa dados recorrentes e recentes da e na literatura geriátrica e gerontológica sobre: o que mais ameaça as pessoas diante da realidade do envelhecimento? Nem tanto é a morte. E sim, a insegurança de como vão estar de saúde com a idade instalada. Ou seja, não quero dar trabalho a ninguém! Esse é o medo e o pior desejo para si. Tornar-se uma pessoa idosa dependente e sem condições de saúde para a gestão de sua vida e de todos os desdobramentos que advêm daí. O que fazer para envelhecer e não precisar de terceiros – cuidadores familiares e/ou profissionais – para ficar de pé? Respondo, afirmando que não há uma receita pronta que sirva para todo mundo.

Primeiro, é admitir que você vai envelhecer e que isso não significa que você estará doente. Envelhecer não é adoecer. Ao contrário do que apregoa a Organização Mundial de Saúde, através de sua corporação profissional, que vai inserir, a partir do ano que vem, no Código Internacional de Doença (CID) a classificação de “velhice” como causa mortis. Depois, mudança de comportamento. Preparação, planejamento para a sua velhice; desde já; comece agora. Cuide de sua saúde. Não só física. Mas, social, afetiva, emocional, espiritual. Alimente-se daquilo que te dê prazer, sabor e saber.

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