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Sem fantasias!

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Estamos vivendo o período do carnaval em todo o país. Por aqui, temos mais de 80 blocos disponíveis no cardápio da folia. E vem com força total e com muita gente. Tomei um susto, no bom sentido, no sábado passado. Inocentemente, desejei ir com a Rose ao Bar du Léo, aqui na praça que reverencia o “Ministrinho”, na verdade, o imortal Armando Toschi. Comer um pastel de queijo e prestigiar o Bloco “Concentra mas não sai”, recentemente alçado à condição de bem imaterial da cidade. Merecidamente, diga-se de passagem! Que nada, nem pastel e nem vi o bloco. De tanta gente que tinha na praça. Mas muita gente mesmo.

Nunca fui (muito) de “pular” carnaval. Era desse jeito que a gente falava quando mais novo. Não me fantasiava de nada. Tenho pouco jeito para participar ativamente de blocos, não sou de encher a cara, nada disso. Curtia muito ir, ver o desfile da Banda Daki, antes da passagem do Zé Kodak. Porque eu gosto mesmo é de ver gente, conversar com um, com outro, rever pessoas amigas. E esses momentos de encontros populares, de rua, proporcionam a realização desse desejo.

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Como percebem, caras leitoras e leitores, nessa coluna de hoje, escrevo um pouco sobre o carnaval, que é o que está tendo, no momento. E também o outro lado muito triste da vida que está acontecendo com muitas famílias, que são as mortes e perdas materiais trazidas pelas chuvas em excesso nesse princípio de ano. Minha solidariedade a todas elas.

Na sequência de continuar falando do carnaval, faço referência, jogo luz sobre a existência de um outro bloco – revolucionário – que a cidade tem. Sem desconsiderar a importância e o respeito que eu tenho por todos os outros. É que esse, o da Terceira Idade, representa uma grande conquista para os seus participantes. Senhoras e senhores que perderam a vergonha de se mostrarem à sociedade e às suas famílias. Sem fantasias, vestidas e vestidos de si, desfilam, abrem alas, exigindo respeito e um tratamento social com dignidade. De cabeças erguidas e com muita alegria e samba nos pés e no coração inundam o Centro da cidade de energia e de positividade na vida. Não há nada mais esperançoso, nada mais corajoso para os nossos dias do que ver o desfile do Bloco Recordar é Viver, da Amac. Hoje é de toda a cidade. De todas as pessoas. Fantasiados ou não entregam para nós a vivência da velhice e a certeza alegre de que esse tempo de vida pode ser extraordinário, maravilhoso.

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Esse exemplo de capacidade e de organização para o carnaval, com toda essa grande mobilização que os participantes do Recordar é Viver demonstram, me faz pensar e refletir sobre a competência que eles possuem para a mobilização política, juntos a tantos outros, no contexto dos movimentos sociais, na articulação pública pelo alcance e efetivação de seus direitos sociais. As pessoas idosas, como sempre repito por aqui, são numerosas, mais de 100 mil pessoas que, organizadas, podem fazer uma outra forma de envelhecimento para elas na cidade, o que seria bom para todo mundo.

Enquanto isso não acontece, sobrevivo na escritura de um outro grande poeta mineiro, Paulo Mendes Campos, que nos alenta com as seguintes linhas: “o que me importa é o gosto de mexer com o barro vivo: a escultura acabada está fora da minha pretensão”. Bom carnaval!

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