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Tem mais presença em mim o que me falta

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Quando eu li no feed do Instagram de uma amiga, essa comunicação, eu fiquei emocionado, ela me pegou de jeito. É de autoria do poeta mato-grossense Manoel de Barros. Nascido em Cuiabá, em 19 de dezembro de 1916. Com registro de sua morte em 13 de novembro de 2014. Fui conferir no Google. Porque temos muitas frases, ideias e pensamentos atribuídos a autores e autoras, que na realidade, eles/elas nunca disseram isso ou aquilo. Nesse caso, procede. Mas porque essa frase me “pegou de jeito” na alma? Porque é isso mesmo: tudo que eu sinto ou desejo é pela falta. Eu respiro porque eu não tenho (…). Eu não conheço a obra literária do poeta de Mato Grosso, mas, com certeza, em breve, vou me iniciar no seu universo, e acredito, que passarei a fazer parte dele. Lembro-me de ter ganho de presente de aniversário, um livro dele. Mas que ainda não li. Caro leitor e leitora, eu pergunto a vocês o seguinte – vocês leem todos os livros que ganham ou compram, em pequeno tempo? Eu não! Aliás, tenho muitos livros já adquiridos que ainda não entrei em suas páginas. Tenho para mim que um dia vou lê-los.

Ultimamente compro livros pela internet, quando empolgo, é o que acontece, na maioria das vezes, compro mais de um. E em casa, o comentário soberano que escuto é esse: mas não tem nem uma semana que você comprou e já encomendou outros livros; já leu os que chegaram semana passada? Não! Não tenho pressa para ler os livros que tenho. Na verdade, são eles que me leem; então, depende mais deles do que de mim, o tempo do nascimento.

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Eu vou transportar essa realidade da sensação da falta que o poeta faz para o meu trabalho social com as Pessoas Idosas. Como assim? Com o tempo passando em mim, nessa convivência diária com os mais velhos e mais velhas, aprendi que meu gráfico de carências aumenta. No cardápio de faltas existentes e presentes, fica difícil de escolher uma. Porque elas são muitas. Fazem parte da nossa humanidade. A velhice acolhe bem, coloca no nosso colo, todas as nossas faltas e as nossas possibilidades de vida. Limites e finitudes. E é assim mesmo, o poeta está certo! Eu sou a falta que sinto do meu pai. Das idades que tive, das idades que terei. Ou na minha interpretação, livre, dos versos cantados por Raul Seixas, na música “Gita”: eu sou o início, o fim e o meio. As pessoas idosas tem todo o tempo nelas. A eternidade. Principalmente, quando elas compartilham e buscam amor e afeto com as outras pessoas. É a falta que faz a gente sair do lugar.

A sociedade brasileira, as nossas cidades, a nossa querida Juiz de Fora, precisam dar valor ao que as pessoas idosas produzem para a coletividade, que é a reprodução da vida humana – a construção sem cessar do nosso futuro. Uma outra aprendizagem que recebi desse convívio com as pessoas idosas é sobre a importância de ter resistência _ mais do que resiliência – na necessidade de ter afeto e buscar a solidariedade entre as gerações. Sozinhos não vamos a lugar nenhum. Minha salvação como pessoa, só existe ou só faz eu ser, na presença da falta que me habita; que se materializa no término de um dia para começar outro. Com as pessoas que eu vejo, que constituem, de perto ou de longe, minha matéria-prima: o mundo com elas; suas expressões; idades; diversidades e pluralidades.

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