Eu não conheci o Domingos de Oliveira, pessoalmente. O que eu sei dele ou sobre ele é resultado de minhas buscas em leituras diárias de jornais que trazem conteúdos editoriais sobre cultura, de um modo geral, em cadernos próprios. Li que ele se dedicava a uma vasta e extensa produção artística-literária de grande monta, materializada em peças de teatro, séries televisivas e incursões na literatura. Na televisão, quem não se lembra da impagável série “Confissões de Adolescentes”? Uma febre. De um sucesso estrondoso de crítica e de público. Bem antes, da nossa Netflix, de hoje.
Domingos de Oliveira saiu de cena numa tarde de sábado, no outono do dia 23 de março de 2019, aos 82 anos de idade, no Rio de Janeiro. Velado no Teatro Municipal Maria Machado, no Planetário da Gávea, na presença de inúmeros amigos que o amavam e que ele amava também. Todos. Às mulheres, com um pouco mais de devoção!
Nessas minhas buscas para o fortalecimento de minhas escolhas e liberdades para ser eu mesmo, fiquei fã do Domingos. E, por esse exercício semanal, de produzir uma coluna toda sexta-feira, resolvi escrever um pouco sobre o que o Domingos de Oliveira me passou nessas pesquisas pessoais. Bem de longe, pela grandeza de sua latitude autoral e genialidade, não deixo de prestar, nem que seja, timidamente, uma singela homenagem a esse grande artista, que amava a vida e a arte. Ele se expressava movido pelo amor, conforme o que está registrado e gravado no Museu da Imagem e do Som, no ano de 2019: “Política é importante, mas não é a coisa mais importante do mundo. O amor é o mais importante.”
Eu fiquei fã do Domingos por causa dos temas que ele apresentava em sua arte: as inquietações diárias e recorrentes da alma, as inseguranças próprias da adolescência, as amizades entre as pessoas que a vida nos oferece, os reveses e os dilemas da vida adulta, a busca do amor, com seus encontros e despedidas. E mais, notadamente, o que me diz alto à minha construção profissional, o tema da velhice entre nós, com as perdas e os ganhos. Ele, que já próximo do seu fim, não desistiu do amor e nem da vida. Por ele, viveria mais. Foi “Domingos até morrer”, inclusive, ao encenar o seu próprio ato final e deixar, por escrito, duas cartas endereçadas à mulher e à filha, em testamento vivo, de muito afeto e de muito amor por elas. O que o Domingos me ofereceu em vida? A fidelidade à procura íntima, no encontro das pessoas. A crença irredutível no amor. O valor sem preço da amizade. Da delicadeza nas relações humanas. A simplicidade rotineira e banal do dia a dia. As miudezas do cotidiano. Por essas características e por outras também, ele foi reconhecido por alguns críticos e gente do ramo, como o “Woody Allen brasileiro” com suas comédias românticas e inteligentes e com situações onde os personagens riem de si mesmos. Como o próprio autor.
Só sei dizer a você, caro leitor, distinta leitora, que eu gostaria sim de ouvir as histórias do Domingos de Oliveira. Bater um papo com ele. – Não tem gente, que mesmo sabendo que nunca vamos encontrar não dá uma vontade de conhecer? O futebol é pródigo em fantasias, principalmente, quando a gente é criança. Eu explico melhor. Quando você faz o gol, vem logo a comemoração, com um nome famoso do jogador que você quer ser. Estou diante do eterno desejo de criança que está em mim, no caso colocado acima.
Nas linhas da minha eterna imaginação, dedico a você, Domingos de Oliveira, meu muito obrigado, com a certeza de que, mesmo longe, mas tão perto e dentro do meu coração, você me ajudou a crer, que eu posso ser uma pessoa melhor, mesmo em tempos embaçados e de pouca luz. Na resistência. Do nascimento à morte, o amor é o mais importante. E para sempre será.
Assistente social e gerontólogo
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