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Por uma cultura do cuidado!

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O trabalho social e público com uma considerável fração das pessoas idosas que desenvolvi por mais de 30 anos na cidade, pela Prefeitura, e ainda desenvolvo agora de outras formas, me ensinou muito na vida. Essa caminhada não foi planejada. Na minha formação profissional como Assistente Social que aconteceu no início da década de 80, esse assunto não entrava na sala de aula. Hoje já entra. O Brasil está envelhecendo muito rápido, as cidades também. É só perceber que na nossa cidade já contamos com mais de 100 mil pessoas com a idade de 60 anos e mais.

Entre as muitas lições que aprendi para a minha vida, ao trabalhar no campo gerontológico-geriátrico, com toda a certeza, a principal delas foi (é) sobre a importância do cuidado às pessoas idosas. No meu caso, ao lado de tantas e tantos competentes profissionais, o nosso cotidiano de trabalho era constituído por pessoas idosas empobrecidas, altamente vulneráveis e de poucos recursos de capital social; na sua grande maioria, senhoras e senhores beneficiária/os da “proteção social” do Governo federal com suas respectivas aposentadorias e/ou pensões. Pessoas idosas que durante a maior parte de suas vidas cuidaram dos outros, principalmente dos de casa, e descuidaram-se. Ainda dá tempo de seguirem em frente na realização de seus desejos? Eu acredito que sim. Ninguém sabe sobre o nosso fim: quando ele acontecerá? É vivendo a vida que construímos o nosso futuro. AGORA. Que independe de quando vai durar – o que importa é seguir adiante, caminhar na direção de nós mesmos, daquilo que nos alimenta e nos mantém de pé.

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Não tenho mais a rotina do expediente diário com as Pessoas Idosas. Eu tenho um pouco mais de flexibilidade para gerir o meu tempo de vida, sendo assim, experimento, mais de perto, o cuidado à minha mãe, que, como eu, como nós, envelheceu. E tem pela frente a atenção para novos cuidados trazidos pela vivência dos anos. Novos desafios estão colocados para ela, pela consciência que possui – da pessoa que foi – sem qualquer comprometimento cognitivo presente – e pela lucidez que tem, de como se enxerga hoje. Um outro corpo atua no contorno de sua estrutura física. Percebo nela, que tem vinte anos há mais que eu, e em mim também, que novas posturas comportamentais são colocadas para as nossas novas realidades. O conflito maior, o maior desconforto emocional para ela, e percebo que é para muitas pessoas também, é aceitar a passagem do tempo em nós. Essa inadequação, essa incongruência interna – entre o que está fora e o que está por dentro – faz toda a diferença na aceitação da idade e traz para mim, compartilhado por outros familiares, novas definições na gestão desse cuidado. Que eu desejo que seja paciente e sereno. Só sei que cuidar de um familiar idoso não é tarefa fácil. Observe, prezado leitor e leitora, que não estou falando de pessoa idosa com algum tipo de demência. Estou falando de uma pessoa idosa, idosa. A quem tenho o maior sentimento de amor nesse mundo.

Nesse contexto, nessa trajetória de vida, do nascimento à morte, por que nossas famílias, a minha, não falam sobre a finitude? Não seria essa certeza, uma oportunidade de valorizar ainda mais a vida? A velhice pode sim, nos potencializar a desejar os dias que virão, a manhã que está por vir. Cuidar é o amor em movimento. É o que precisamos fazer. A Política Pública tem que dar conta de cuidar de todas as pessoas. Esse desejo tem que se transformar em realidade na cena pública de nossos dias. Nosso maior patrimônio são as pessoas. Precisamos cuidar mais da vida. Precisamos cuidar mais da nossa gente.

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