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Entre o ter e o ser!

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Hoje, mais do que nunca, temos que ter sempre uma opinião definitiva sobre os fatos que acontecem no mundo. Ou isto. Ou aquilo. A sociedade exige de nós, caminhos estreitos e fechados. Não lugar para o “não sei”; “pode ser”. Não há espaço para outras possibilidades de ser, de se ver a vida, de se enxergar a política. As opiniões devem ser salvadoras e certas, de preferência, que a minha seja melhor que a sua: o pai sabe mais que o filho, o professor sabe mais que o aluno, o presidente sabe mais que todos. Todo mundo tem que ser muito bem-sucedido na vida, se não o é, é porque é um fracassado, é um preguiçoso, é malandro. O status quo é esse. A sociedade é imutável, está colocada e está pronta, você tem que se virar para se dar bem; onde muitas das vezes, os meios justificam os fins, na busca maquiavélica para subir na vida. Num reforço neoliberal mundial de que o econômico sobrepõe ao social. É o que estamos vivendo nesse momento com a pandemia do coronavírus. Que se danem as pessoas. Precisamos salvar a economia, o lucro das empresas, mesmo que para isso morra algumas pessoas. Penso que ainda falta um tempo para o equilíbrio entre o desenvolvimento econômico do Brasil e o desenvolvimento da nação, dos brasileiros, da maioria da população brasileira que vive na pobreza. De crianças às pessoas idosas. Continuamos sendo um país muito injusto socialmente.

Minha contribuição para a transformação desse quadro se dá, através da minha atuação profissional, como assistente social da Prefeitura, no trabalho diário com a população idosa da cidade, há mais de 30 anos ininterruptos. Pessoas idosas das classes populares. Aposentados e pensionistas do Poder Público. Que reforçam a lógica capitalista de que quanto mais velhos, mais pobres tendemos a ficar. É preciso planejar a nossa velhice desde já. Guardar algum dinheiro é um bom sinal, entre outras medidas necessárias. Eu acredito que envelhecerei sem grandes reservas financeiras. Não fui treinado para ganhar dinheiro. Sofro muito quando preciso dar preço para alguma atividade intelectual (dar palestra) que vou realizar. Mas já cobro! Até porque esse é um desejo que alimento daqui para a frente, ainda mais com a minha aposentadoria chegando, prevista para o segundo semestre. E vou continuar estudando. Escrevendo. Conversando com o mundo. Trocando ideias com você, caro leitor e leitora, dessa coluna das sextas-feiras. Eu desejo ampliar as minhas possibilidades de ser, conforme eu me vejo como pessoa. Ir ao encontro daquilo que me dá prazer e satisfação. E por mais que o mundo direcione as pessoas para terem mais; bens e negócios; carros; propriedades; dinheiro; e mais dinheiro; eu vejo que muitas pessoas querem ser. Ser mais solidárias; mais educadas; mais generosas; mais felizes; mais simples; mais conectadas com o bem estar das outras pessoas. Eu tô nesse segundo time de pessoas.

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Aliás, a minha direção profissional, de ser assistente social, contrariando a minha mãe, que queria um filho médico ou engenheiro, à época, anos 1980, eram profissões que tinham muito mercado, já me entrega pela escolha, ao me definir pela construção de uma sociedade, ou de uma cidade justa para todas as pessoas. O que reproduz em ter mais ideia do que obter dinheiro. Mais sonho do que ter dinheiro em conta bancária. Hoje eu sei muito bem, aprendi, que ganhar dinheiro não é pecado. E que não há mal nenhum nisso: ser bom e ter dinheiro. Embora tivesse iniciação aos ideais marxistas e com os quais me identifico, foi mais nos ensinamentos de Cristo que me aproximei e adquiri uma vivência de pensar no outro e no coletivo. Afirmo que a minha motivação na escolha da profissão está fincada nas palavras de Jesus. No amar o próximo como a ti mesmo! A prática religiosa no meu tempo de jovem acendeu em mim o desejo de lutar por uma sociedade mais igual e fraterna. A inserção social do meu trabalho – do nosso trabalho – com as pessoas idosas está amarrada ao desejo de que a política pública não pode deixar ninguém de fora, principalmente as pessoas que fizeram e fazem pelo País, pela cidade e pela família. As pessoas idosas!

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