Amanhã é Dia de Finados. Dia da saudade. Dia de lembrar dos nossos entes queridos que partiram antes de nós. Nós que estamos a caminho, ou como nos informa o autor do filme brasileiro, de 1999, Marcelo Masagão, com o seu documentário: “Nós que aqui estamos por vós esperamos”. Particularmente, peço licença a vocês, leitores e leitoras, para entre amigas e amigos falecidos, fazer menção diferenciada ao meu pai. O eterno DAÚ, que, aos 78 anos, há quatro anos morreu. Foi no período de adoecimento e morte do meu pai que eu ganhei mais vida. Nele, eu percebia muita vida. Com a sua despedida, outras janelas se abriram para mim. Nesse estágio, vi e senti o amor pelo meu pai. E ele por todos nós de casa.
Aqui, uma boa memória. Já percebendo o seu fim, meu pai me pergunta assim: como você vai se sentir com a minha partida? Impactado com a pergunta. Assustado. Dei conta de responder: ah, pai, vou sentir muito a sua falta. Vou chorar bastante. Já chorando na conversa. E a partir desse momento, sua morte iluminou minha alma, porque percebi, de uma vez por todas, que o amor existe. E morrer pode ser libertador. No caso de meu pai, foi. Essa crônica é para ele. Dedicada a ele. Certo é que não estamos educados para a morte. Não falamos de nossa morte como deveria ser. O Dia de Finados vem preencher um pouco essa falta de educação que temos para aceitar a nossa morte. Mesmo assim ainda é pouco. Penso que as instituições de educação superior deveriam, através de todos os seus cursos, implantar conteúdos voltados para a morte. Para a finitude. Como os futuros profissionais lidam com a morte? Dos outros? E da sua? Há uma grande lacuna para essas respostas.
No trabalho social com as pessoas idosas tornou-se necessário para mim promover reflexões diárias sobre a morte. Sobre a minha morte. Não que a morte seja propriedade única e exclusiva das pessoas idosas. Não é isso. Essa ideia está presente no senso comum. Morrer é da vida. Morre-se em qualquer idade. Só que a nossa sociedade coloca a morte como sendo parceira agarrada das pessoas idosas. A partir do momento que nós eliminarmos da nossa cabeça essa ideia de que a pessoa idosa não tem horizonte e nem futuro; de que a morte bate à porta; poderemos vislumbrar outros desejos e possibilidades de vida para as pessoas idosas. Quem falou que as pessoas idosas não têm esperança? O que vale aqui não é o tempo físico dos dias. O que vale aqui é o tempo de dentro. É o tempo de satisfação da alma. Que pode ser extremamente fugaz ou não. E provisório. Não importa!
Desejo envelhecer com muita curiosidade pela vida. Ouvindo mais músicas. Atento às miudezas do cotidiano. Não vou me permitir, na medida do possível, perder a capacidade de adotar novos hábitos, naturalmente, os que me fazem muito bem à alma. Ou seja, meu plano de vida é morrer, mas, antes, não perder o saber e o sabor de viver. Se eu tenho medo da morte? Não. Tenho mais medo do envelhecimento social. De não ter com quem conversar. Com quem torcer. Com quem falar. Para isso, desde já, cultivo os velhos amigos e construo outras novas amizades. O sentido da vida para uma (boa) morte é criar laços e vínculos de amor e de amizade com as pessoas. Mesmo que com poucas. Verdadeiramente.
Nesse Dia de Finados, desejo para você, caro leitor e leitora desta coluna, que você esquente seu coração com as boas lembranças, com os momentos de amor, de alegria e de grandeza humana do convívio estabelecido com seu ente querido. Como eu farei em relação ao meu pai. E amigos e amigas que se foram. A minha satisfação é saber que, pela memória, eles e elas, estão sempre juntos ao meu/nosso coração. Assim como eu espero, que um dia, eu esteja também na lembrança e na memória dos que me amaram e de quem eu amei.