“Quer que eu faça o quê?” Ora, caríssimo presidente da república, para início de conversa, que se comporte como tal, como alguém que foi eleito, democraticamente, para ocupar a cadeira do Palácio do Planalto e que, tenha, no mínimo, respeito e empatia para falar das mazelas que assolam o seu país.
A pergunta que abre esse texto foi feita por nosso chefe de Estado a uma repórter depois de ser questionado acerca das mortes por coronavírus no Brasil, que, nesta terça-feira (29), superaram as da China, país de origem da pandemia. Segundo boletim divulgado pelo Ministério da Saúde, o número de mortes confirmadas por Covid-19, naquele dia, tinha ultrapassado a marca dos 5 mil, chegando a 5.017. Na China, o total era de 4.643.
Na ocasião, a autoridade máxima do Poder Executivo disse que era Messias, fazendo referência ao próprio sobrenome, mas não podia fazer milagres. O mandatário disse se solidarizar com os familiares das vítimas, mas seguiu minimizando seu papel na crise: “É a vida. Amanhã sou eu”.
Em coletiva à imprensa, a equipe de Saúde do Governo atribuiu a piora da situação ao aumento de casos em regiões específicas, onde o quadro é de “maior dificuldade”, conforme disse o ministro da Saúde, Nelson Teich. Ele não fez relação entre o relaxamento do isolamento social em algumas capitais, visto nos últimos dias, e o aumento nos números de mortes e contágios, mas admitiu a precariedade em alguns pontos de atendimento: “Tem a parte financeira, tem os respiradores, EPIs (equipamentos de proteção individual), recursos humanos”, disse.
Pois é, nobre governante, não estamos à espera de um milagre! Talvez, menos ainda, que adote uma maneira mais polida para falar com a nação, mas esperamos, de forma mais contundente, que tenha compromisso e possa ser útil ao traçar estratégias pelo Governo Federal para socorrer os estados, o Distrito Federal e os municípios no combate à Covid-19.
Com a piora da doença em todo o país, os sistemas públicos de saúde travam uma batalha contra o tempo, a fim de garantir o recebimento de equipamentos de proteção e, principalmente, de respiradores para evitar um colapso. São Paulo, Rio de Janeiro, Pernambuco, Ceará e Amazonas são os estados que mais preocupam, já que as regiões metropolitanas de todos eles já têm mais de 70% dos leitos ocupados.
Não queremos que o país se desmorone a cada dia mais, com pessoas morrendo nas filas dos hospitais, faltando respiradores nas UTIs, sem vagas nos cemitérios superlotados, morrendo de fome, sem despedidas nem velórios. Existe um clima mórbido no ar. Muitas pessoas em distanciamento social já vivem uma rotina de depressão dentro de suas casas. Existe o receio de uma derrocada sem precedentes na economia. Pais e mães com medo de perderem empregos, outros, em situações mais precárias, com temor de não terem o que comer no dia seguinte.
Estamos com medo de que as mortes provocadas pelo vírus deixem de ser apenas números e se transformem em avós, pais, filhos, netos, sobrinhos, tios, amigos, colegas de trabalho e vizinhos. Então, caro, mandatário, queremos, com urgência, que seja presidente com “p” maiúsculo.