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Desumanizar

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É de perder o ar a cena em que Genivaldo de Jesus Santos, de 38 anos, é asfixiado dentro de uma viatura policial, na cidade de Umbaúba, no Sergipe. Genivaldo não morreu. Ele foi morto. Seu caso não é isolado quando se trata de pessoas que perderam suas vidas pelas mãos do Estado. Choca o fato de que, apesar dos celulares registrando a situação, a tortura não para de acontecer. Não existem pudores. Existe sanha e até sadismo.

A pergunta que não sai da minha cabeça é por que nada nem ninguém, apesar de tudo estar acontecendo às claras e na frente de diversos populares, foi capaz de parar aqueles agentes do Estado. Diante de tal situação, fico me questionando sobre quais garantias qualquer cidadão brasileiro tem de não passar pelo mesmo tipo de abordagem. Que tipo de salvaguarda temos, qualquer um de nós, se o Estado, que deveria nos proteger, faz o contrário? A quem poderemos recorrer? Se são criminosos a nos matar, pedimos socorro ao Estado. Mas, se é ele quem nos ameaça, de onde essa ajuda virá?

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A palavra barbárie é uma das que mais ouvi para qualificar o episódio. Segundo o dicionário, ela quer dizer selvageria, qualidade ou condição do que é bárbaro, cruel ou desumano.  Há muito, tenho registrado aqui, nesta coluna, de diversas formas, minha indignação com a desumanização do ser humano. Sempre procurei, apesar da revolta, manter a esperança. Não quero ser inocente, pois sei que o Brasil foi forjado na base da violência. Nossa história está pautada no derramamento de sangue do povo indígena e dos escravizados sequestrados de suas nações. E são, justamente, os índios e os negros que mais sofrem o abandono do Estado nos dias atuais.

Mas estamos em pleno século XXI. Vivemos num país que ainda se diz democrático, a despeito da fragilidade de nossa democracia. Existem tecnologias para ajudar a melhorar a vida das pessoas. O Brasil é signatário dos Direitos Humanos. Não há mais espaço para o que aconteceu a Genivaldo, da mesma forma que é inaceitável a chacina na Vila Cruzeiro, inconcebível a morte do músico Evaldo, que teve seu carro confundido com o de criminoso, e inadmissível o desaparecimento de Amarildo. Também é intolerável que policiais sejam mortos por negligência do próprio Estado, que não consegue praticar políticas públicas sociais para combater a criminalidade e a injustiça, colocando seus agentes na linha de frente de uma guerra insensata.

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Existe um sentimento de abandono geral, que é fomentado pela displicência do Poder Público. É esse sentimento de desamparo que talvez seja responsável por espalhar no ar, que muitas vezes nos falta diante das barbaridades, esse clima de sadismo em que tudo é possível, em que nada é motivo de vergonha e que nos leva a nos desumanizar.

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