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Hora de andarilhar

Crédito: Dalton Valério

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Se eu dissesse que me encontrei com Paulo Freire, na última quinta-feira, você acreditaria? Vou explicar melhor: ao assistir ao espetáculo “Paulo Freire: o andarilho da utopia”, na programação da Campanha de Popularização do Teatro e da Dança, no Cine-Theatro Central, vi o patrono da educação brasileira no palco e também na plateia. Paulo Freire estava na emoção do ator Richard Riguetti e no olhar de cada um que fazia parte daquele público. Em comunhão, artista e espectador dividiram, pelo menos naquele momento e graças à magia do teatro, um Brasil possível para todos. Um Brasil tão extenso e diverso, tão maltratado e incompreendido, mas possível. 

Em um misto de linguagens, usando circo, música, poesia e teatro, a peça faz do palco um picadeiro e, ao mesmo tempo, uma sala de aula, mas sem ter o tom de um espetáculo bibliográfico. Ao optar pela história do menino, que teve seu quintal como seu primeiro mundo, o texto nos leva a conhecer o Paulo Freire que experimentou a fome na infância e é a síntese de um país formado por homens, mulheres, negros, indígenas, nordestinos e trabalhadores. Um homem que brincava de ser astronauta e virou um educador consagrado mundialmente e que também foi, como a maioria de nós, um brasileiro cheio de sonhos.

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De forma livre, o texto aborda a infância, a formação, a prisão, o exílio, o retorno, a utopia, o afeto e, acima de tudo, a alma do brasileiro. Em alguns trechos da narrativa, vi pessoas chorando na plateia. As lágrimas eram de esperança. Ao final, ouvi gente dizendo que era impossível deixar o teatro sem estar inundado de apreço pela democracia, pelo respeito ao diferente, pelo exercício do diálogo, pela aposta no amor. 

Paulo Freire morreu em maio de 1997 e, por isso, no início deste texto perguntei se era possível acreditar no meu encontro com ele. Jamais nos encontramos, fisicamente, é claro! Mas acredito que existem diversos tipos de encontro. E um deles pode se dar por meio da palavra. Freire era um semeador de palavras, e elas continuam vivas e necessárias, como bem evidencia a peça, porque nos alertam para a busca de uma sociedade mais justa. 

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Seu legado encanta o mundo inteiro e nos deixa orgulhosos. Seu trabalho, a partir da reinvenção do cotidiano, é uma lição do que é preciso fazer para a superação de obstáculos. Ele nos ensinou que é preciso ter esperança, do verbo esperançar. “Esperançar é se levantar, esperançar é ir atrás, esperançar é construir, esperançar é não desistir! Esperançar é levar adiante, esperançar é juntar-se com outros para fazer de outro modo.” Esse é um sonho que também nos coloca diante desse encontro com Freire. 

Em certo momento do espetáculo, seu protagonista diz que, quando caminhamos cem passos, ainda faltam mil para que haja um avanço de fato. Assim é a nossa utopia, que serve, a cada dia, para que continuemos caminhando. Mais do que nunca é hora de andarilhar!

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