Quando o coronavírus nos atropelou, estávamos preparando a festa de aniversário de nossa filha. Ela completou nove anos em março. Faltavam, se não me falha a memória, duas semanas para a comemoração. Já tínhamos distribuído os convites, e os coleguinhas da escola e da vida já estavam todos animados, pois, a pedido da aniversariante, a celebração seria uma “pool party”. Nos convites, havia a orientação para que todas as crianças comparecessem com roupa de banho. O sítio com piscina já havia sido alugado. Bolo, doces e salgados já estavam encomendados.
Mas eis que todas aquelas notícias que nos chegavam pela TV e jornais a respeito do que estava acontecendo na China e na Itália começaram a ter versões brasileiras, e o receio do que poderia se dar por aqui invadiu nossos corações que, naquele momento, teimavam em manter a festa, para não decepcionar nossa filha. Passamos uma semana de apreensão, prestando atenção no noticiário e torcendo para que, no Brasil, e, aqui em Juiz de Fora, as coisas fossem diferentes. Não chegamos a desmarcar a festa.
Porém, na última semana, como os fatos já não eram otimistas, decidimos pelo cancelamento. Ligamos para os pais, explicando a situação, e logo obtivemos a compreensão, pois eles também estavam assustados. Se hoje temos poucas certezas de como essa crise irá acabar, imagina há três meses. Também contamos com a sensibilidade do proprietário do sítio e dos fornecedores dos “comes e bebes”, que entenderem a situação e não nos impuseram multas.
O mais difícil era contar para a aniversariante que a festinha havia sido cancelada. Todavia, do jeito dela, já tinha observado nosso comportamento naqueles dias e ouvido as conversas sobre o terrível vírus que tinha chegado ao país. Ao ser comunicada sobre o cancelamento, de forma madura ainda aos oito anos, ela disse: “OK, quando tudo passar, a gente faz outra festa e convida todo mundo de novo”. Mesmo assim, sua comemoração da nova idade aconteceu com bolo e guaraná e apenas nós, nem por isso, menos cheia de amor.
Quando chegou o mês de maio, o aniversário era da minha esposa. Até passou pela nossa cabeça que seria possível uma reunião com familiares e amigos, mas ficou só na ideia, pois a realidade, àquela altura, era muito mais dura. Já estávamos todos de home office, saindo de casa apenas para atividades essenciais. Os dias já eram mais densos, e as noites, mais silenciosas.
Nesta semana, na última terça, o aniversário foi meu e também de meu pai e de minha tia. Ganhamos de presente essa data, que é sempre motivo de encontro. Desta vez, contudo, apesar do carinho, as trocas de felicitações foram por meio de aplicativos e redes sociais. Mas claro que não faltou bolo e uma garrafa de vinho.
É dessa forma que têm sido os aniversários aqui de casa, e acho que também em outros milhares de lares, nesta quarentena. Digo assim porque há os irracionais, que, inclusive, promovem churrascos, ignorando todos os avisos e alertas, mas isso é assunto para outro texto.
Gostaria de terminar dizendo, com muito respeito à dor imensurável daqueles que perderam pessoas queridas na pandemia, que, apesar de todo medo, da insegurança do colapso econômico e até da dúvida sobre a máxima “de que tudo logo vai passar”, é preciso manter a serenidade. Já deu para saber que esse afeto virtual via emojis não é capaz de substituir um abraço de verdade. Mas vamos resistir e vibrar pela vida, pois não existe outro jeito!