Nesta semana, completou um mês que a menina Ágatha Félix, de 8 anos, foi morta por um tiro de fuzil, no Complexo do Alemão, na zona norte do Rio de Janeiro, no dia 20 de setembro. Em entrevista aos jornais cariocas, a mãe da criança, Vanessa Sales Félix, contou que ainda não consegue voltar para casa por medo da violência. Ela afirmou que não tem estado emocional para viver uma vida se escondendo dentro do banheiro, para não ser atingida por uma bala perdida.
E o Brasil, será que também consegue voltar para o eixo e adotar medidas que impeçam que a vida de mais brasileiros sejam ceifadas pela violência? Até o último Dia das Crianças, a plataforma Fogo Cruzado, que tem o objetivo de registrar a incidência de tiroteios e a prevalência de violência armada, registrou 20 crianças baleadas na região metropolitana do Rio, sendo que Ágatha foi a quinta a morrer. A mesma plataforma mostra que o número de agentes de segurança baleados, na Grande Rio, em 2019, chegou a 200 vítimas. Desse total, 87% (174) eram policiais militares – na ativa ou aposentados -, e 49 deles morreram.
Assim como a mãe de Ágatha, quantos outros “banheiros” mais teremos que usar para nos esconder à espera de um Estado que realmente olhe para seu povo e permita que crianças, agentes de segurança e qualquer cidadão voltem para suas casas a salvo? E não é só por esse tipo de segurança que estamos no aguardo. Vivemos dias de perversidade em quase todas as direções às quais tentamos escapar. Como já disse aqui, nesta coluna, não tem sido fácil manter a salubridade com tantos medos batendo a toda hora na nossa porta.
Das fake news a desastres ambientais, como o óleo que contamina as praias do nordeste brasileiro, nosso dia a dia tem sido permeado pelo medo. Desde o dia 30 de agosto, manchas de óleo afetam o litoral. Até a última segunda-feira, 900 toneladas do material já haviam sido recolhidas de 201 praias da região. E até agora não se sabe a origem desse derramamento. Parece que, realmente, vivemos regidos não somente pelo temor, mas pelo desconhecimento, uma vez que muitas crises enfrentadas pelo Brasil atual têm ficado sem respostas.
No caso de Ágatha, por exemplo, as investigações sobre sua morte seguem em andamento na Divisão de Homicídios do Rio de Janeiro e sob sigilo. Como informa o noticiário, as circunstâncias do dia em que a menina morreu ainda não foram esclarecidas. Segundo testemunhas, a garota foi baleada por policiais militares. No entanto, os PMs alegaram que houve um ataque contra eles. A Polícia Civil ainda apura se o tiro que atingiu Ágatha desviou em um poste antes de feri-la.
Como disse o avô da menina, “ela foi para o céu”, depois que a violência cruzou o caminho da Kombi em que a criança voltava para casa ao ser baleada. Aqui na terra esperamos que as autoridades responsáveis zelem para que sua morte encontre a justiça e não seja esquecida. Daqui, rogamos à Àgatha, agora na sua qualidade de anjo, que peça a Deus para que não se esqueça da gente e nos salve de tanta perversidade!