O carnaval passou. Lá se vão duas semanas! Em outros tempos, diríamos que agora o ano começou de fato. Entretanto, 2019 teve seu início mais cedo, lá pelo final do mês de outubro do ano passado. Desde aquela época o ano novo passou a fazer parte do nosso dia a dia nas conversas e no noticiário. Muitas expectativas foram criadas para o mal ou para o bem. O ano de 2019 rompeu de verdade e começou triste, deixando, nós, brasileiros, assustados. Amedrontados mesmo!
A onda espessa, suja, tóxica e criminosa de Brumadinho levou a vida de centenas de pessoas e a força de viver de milhares de outras. Famílias, inclusive, entraram em conflito, disputando a possível verba indenizatória, no valor de R$ 100 mil, que a mineradora prometeu em troca dos entes perdidos. Estes três primeiros meses do ano colocaram nossos nervos à prova pela sucessão de calamidades. Ficou difícil acordar e se deparar com um novo baque a cada dia: a guerra no Ceará, que teve mais de 150 ataques com incêndios, tiros e explosão de dinamite, na primeira semana do ano; os problemas estruturais dos viadutos em São Paulo, os desabamentos de encostas e da ciclovia no Rio, os jovens atletas, grandes promessas do futebol, perdendo a vida no Ninho do Urubu; a morte do jornalista e âncora Ricardo Boechat; e a falta de Bibi Ferreira, que só ampliou o nosso silêncio constrangedor.
Quando achávamos que teríamos um pouco de paz, até para digerir o que já havia acontecido, os atiradores de Suzano (SP) arrancaram nosso chão, deixando um rastro de sangue, incluindo o deles. É muita desgraça num curto espaço de tempo. Sem falar do clima de rancor e desconfiança que paira sobre a população.
Diante de uma realidade tão árida, tão dura de ser compreendida, como ter esperança e crença em nossa sociedade? Para entender o Brasil de hoje, apontam os especialistas, é preciso voltar ao passado. Os tempos idos não podem ser considerados apenas uma herança de bens e de tradições, de memórias e de saberes, mas também e, especialmente, como um elemento essencial para se enxergar o presente, entendê-lo e reinventá-lo. O Brasil de hoje ainda guarda as chagas do Brasil do passado. Diversas questões deixaram de ser tratadas a seu tempo e nos trouxeram os problemas sociais, econômicos e ligados à corrupção, que já nos acompanham a bastante tempo. É certo que houve progresso. Algumas barreiras foram eliminadas e a inclusão social, em certa medida, foi alargada. Porém, há muita carência ainda. As populações marginais nas favelas urbanas, nas caatingas nordestinas, as lutas pelos direitos das minorias, a falta de educação e de saúde provam a insuficiência de esforços.
Para terminar este texto de forma amena numa tentativa de superação de tanta tristeza, preciso dizer que, cada vez mais, políticas públicas para a educação são necessárias. O Brasil só irá se transformar naquele país que a gente almeja pela via educacional da qual não podemos abrir mão em qualquer circunstância. Nesta perspectiva, a abertura das portas do Museu Nacional, no Rio de Janeiro, após o incêndio que o devastou, em setembro de 2018, para obras de reconstrução, é uma notícia que nos devolve pouco da nossa fé dilacerada. Já foi concluído o trabalho de estabilização do prédio. A realização do escoramento permitiu que as pessoas voltassem a andar dentro da edificação, trabalhando no resgate arqueológico. A estimativa é que, até o fim deste mês, seja instalada uma cobertura provisória do prédio, cujo objetivo é proteger as peças que ainda estão por ser resgatadas. Salvando o nosso passado, temos mais e melhores condições de salvar o nosso presente!