Quando eu era criança, os adultos que mais admirava na vida eram meus pais, com quem aprendi a alegria da vida e de ter uma família. Quando fiquei adolescente, os jornalistas, que enxergava, romanticamente, como heróis, também passaram a fazer parte da minha admiração. Não à toa, meus personagens fictícios prediletos eram o Clark Kent, um repórter que servia de identidade alternativa para o Superman, e o Peter Park, jornalista fotográfico de profissão e Homem-Aranha na hora de salvar a humanidade. Como bons contadores de histórias, os jornalistas ampliaram meu mundo, aguçaram minha curiosidade e me fizeram acreditar que, apesar de todas as mazelas, era possível crer em uma sociedade mais humana e empática. Decidi, assim, ingressar na faculdade de jornalismo.
A aprovação no vestibular, muito disputado na época, foi um sonho. Iniciado o curso, conhecer as dependências da Faculdade de Comunicação da Universidade Federal de Juiz de Fora, os laboratórios, a rádio universitária que já ouvia ainda quando estudava para prestar o vestibular, era fascinante. A cada semestre, novas disciplinas, novos professores. A profissão escolhida para exercer durante a vida se descortinando para mim concretizava um desejo de criança. Lá se vão dezoito anos da minha formatura. Desde que recebi meu diploma, nunca deixei de exercer o jornalismo profissional. Comecei na televisão como repórter, depois apresentador e editor. Em seguida, o jornalismo impresso, que considerava um desafio, tornou-se parte da minha identidade. Algo indissociável de mim, pois ser jornalista não é apenas uma profissão que se exerce, mas também uma maneira de se colocar e de se enxergar no mundo.
Por tudo isso, vejo com muito pesar grande parcela de nossa sociedade se posicionar de forma contrária e desrespeitosa contra jornalistas, transformando-os em inimigos públicos, uma vez que não entendem o papel que o jornalismo profissional cumpre para a manutenção da democracia. Nesta terça-feira (18), o presidente do Brasil, fazendo uso de uma narrativa agressiva, proferiu insultos contra a jornalista da Folha de São Paulo, Patrícia Campos Mello, fazendo ironias de cunho sexual. “Ela [a repórter] queria um furo [uma exclusiva, no jargão jornalístico]. Ela queria dar o furo a qualquer preço contra mim”, verbalizou, em tom debochado, para um grupo de simpatizantes na frente ao Palácio da Alvorada, num intencional jogo de palavras que sugere a troca de uma informação por oferta de sexo.
Tudo isso, claro, aguçou a claque, que da mesma forma agressiva, usando perfis falsos e reais na internet, promoveu o linchamento virtual da jornalista e da imprensa em geral. Comentários machistas, misóginos, vulgares e ofensivos têm sido a tônica deste momento tosco pelo qual o Brasil atravessa aos olhos apáticos das instituições que estão paralisadas, enquanto figuras do governo, que deveriam ser as zeladoras e não os algozes, caçoam do povo brasileiro, ofendendo trabalhadoras domésticas, servidores públicos, professores e jornalistas.
Ter respeito e polidez com as pessoas é o mínimo que se pode esperar de mandatários que, democraticamente, foram eleitos. Quanto à investida contra os jornalistas, penso, com muito desgosto, o quanto parte da sociedade está pobre de conhecimento sem entender que o jornalismo profissional já fez muito e ainda faz para que as engrenagens do mundo funcionem, corrigindo injustiças e para que democracia viva, mesmo que em estado de agonia!