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“Não olhe para cima”

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Na semana passada, escrevi aqui neste espaço a coluna com o título “O flautista mágico”. Em determinado trecho do texto, registrei: “Já sabemos que não é só uma gripezinha. Já sabemos que a cloroquina não serve para esse tratamento. Então, até quando esse tipo de discurso encontrará pessoas dispostas a escutá-lo?”. E essa frase, pelo que pude perceber, causou a indignação de muitos negacionistas. Logo que o texto foi publicado, apareceram os gritos daqueles que preferem fechar os olhos para a ciência. Como forma de se contraporem ao que o meu texto dizia, eles afirmaram: “já sabemos que a vacina não adianta para nada”, “já sabemos que as máscaras não adiantam para nada”.

Não adianta para quem, cara-pálida? Eu questiono! Não adianta para quem não se vacinou. Não adianta para quem resiste, de forma irracional, a não usar máscara. Dados que estão disponíveis para serem consultados livremente na internet mostram que a campanha de vacinação segue impactando de maneira positiva os números da Covid-19 no Brasil, com queda na média móvel de óbitos, assim como na média móvel de novos casos. Basta ter inteligência e bom raciocínio para ver que o cenário, antes trágico, está bem melhor.

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Quanto ao uso da cloroquina para o tratamento contra a Covid-19, farmacêuticas que fabricam o remédio no Brasil vieram a público para não recomendá-lo no tratamento da doença. Não sou eu quem está dizendo. A própria Organização Mundial da Saúde (OMS) concluiu que a hidroxicloroquina não funciona no tratamento contra a Covid-19 e alertou ainda que seu uso não recomendado pode causar efeitos adversos.

A organização internacional informou que o medicamento passou por uma análise de um grupo de especialistas e pacientes e recebeu “forte recomendação” contra o uso no combate ao coronavírus. No Brasil, a Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) alertou que o uso de hidroxicloroquina contra o coronavírus não é recomendado. Então, a única conclusão possível é simples: contra fatos não há argumentos.

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Quando vi as postagens de negacionistas rebatendo meu texto, foi impossível não pensar no filme “Não olhe para cima”, lançado pela Netflix, na véspera do Natal passado e dirigido por Adam McKay. O longa-metragem pega no pé de negacionistas e isentões de plantão.

O ponto forte do filme é justamente a aparição de um cometa no céu, que vai acabar com o planeta, algo que foi alertado por cientistas. Mas, enquanto o meteoro do tamanho do Monte Everest está prestes a colidir com a terra, a população está dividida. Há aqueles que olham para cima e realmente entendem que não há escapatória para o fim do mundo, e existem as pessoas que adotaram o movimento “não olhe para cima” e que acreditam que o mais importante é extrair riqueza do minério do cometa.

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A arte imita a vida ou a vida imita a arte? Não tem como deixar de pensar no cometa de “Não olhe para cima” sem fazer uma analogia com o coronavírus. No filme, tanto a presidente quanto seu chefe de gabinete e outros figurões do governo ignoram a advertência dos cientistas por conta de problemas considerados “maiores”, como a eleição e polêmicas envolvendo assuntos sexuais.

Guardadas as devidas proporções, porque o longa mistura um pouco de sátira e drama, o roteiro bem que se assemelha com a realidade brasileira. E, claro, se a vida real muitas vezes deixa de fazer sentido, um filme não tem essa obrigação, mas, pelo menos, serve de reflexão para quem não aguenta mais tanta fake news e tantos discursos de caráter negacionista.

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