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A ignorância dos intolerantes

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A coluna 3miltoques completou quatro anos nesta semana, no último dia 14. Ao todo, este é o texto de número 228. Durante esse tempo, tive a oportunidade de tratar sobre vários temas aqui neste espaço. Desde aqueles bem espinhosos, até os mais amenos. É bom fazer aniversário e saber que, de alguma forma, os toques que cabem aqui alcançam alguns leitores. É motivo de alegria, para este autor, o retorno carinhoso que recebe daqueles que dedicam alguns minutos de seu tempo para fazer a leitura destes caracteres. Gostaria até que este texto comemorativo fosse leve, mas não dá para fugir dos ossos do ofício.

Assim, depois da comemoração, vamos ao que interessa. Estarrecidos, eu posso dizer que ficamos, porque minha indignação não é solitária, depois da história de agressão, que veio à tona nesta semana, contra uma professora. Docente há 16 anos, Edmar Sônia Vieira, que ministra a disciplina de Língua Portuguesa, no Centro de Ensino Médio (Ceilândia/DF), foi agredida moral e verbalmente ao receber de “presente” um pacote de esponja de aço na data de 8 de março, Dia Internacional da Mulher.

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O “mimo” foi dado à professora negra por um estudante, de 17 anos, diante diversos outros alunos, que, dentre muitos, acharam a piada engraçada e nada fizeram para se solidarizar com a mestra. Resguardo a conduta de apenas duas alunas que se posicionaram a favor da docente. Tal fato, além de ser uma ultrajante ação racista, fere a dignidade humana e coloca em xeque nosso sistema educacional, que não consegue conscientizar os estudantes a respeito da necessidade de mudança de atitude diante da violência racista que assola nosso país. Expõe, ainda, a misoginia que tem sido a tônica de um Brasil onde parlamentares, fazendo uso de perucas, usam a tribuna de suas casas legislativas para desqualificar mulheres.

A esponja de aço, também conhecida como “bombril”, foi usada pelo estudante para zombar do cabelo da professora, além de aludir ao fato de que, dentro da visão de mundo patriarcal, o lugar da mulher é na cozinha, cuidando de seus afazeres domésticos. A conduta desse rapaz é mais uma entre tantas que insistem em perpetuar as desigualdades brasileiras, principalmente aquelas que incidem sobre as mulheres, sobretudo as negras.

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E quanto mais se reflete a respeito desse episódio, mais encontramos motivos para desprezá-lo. Porque além da discriminação racial e da aversão às mulheres, o caso evidencia o processo público e deliberado de desvalorização dos trabalhadores da área de educação. Até bem pouco tempo, bandeiras se levantavam para colocar os professores na posição de inimigos da sociedade. Algo que ainda não foi estancado de vez e deixa os educadores temerosos, com o sentimento de que podem ser perseguidos e denunciados a qualquer momento.

Ao presentear sua professora com uma esponja de aço, o jovem estudante e todos aqueles que coadunam com sua atitude se mostram como produto de uma nação que não consegue fazer justiça social. Que não logra êxito para enfrentar as desigualdades de gênero e, muito menos, para combater o racismo. Por meio deste texto de aniversário, a coluna 3miltoques se solidariza com a professora Edmar e com todas as outras pessoas que, a cada dia, têm sua dignidade atropelada pela ignorância dos intolerantes.

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