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Apenas apagão

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Foto: Fernando Frazão/Agência Brasil

 

Não dilapidaram apenas rios e matas

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Quiseram exterminar sua cultura

Não dilapidaram apenas rios e matas

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Quiseram riscar essa gente do mapa

Não dilapidaram apenas rios e matas

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Abusaram de seus corpos sem capa

Não dilapidaram apenas rios e matas

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Trocaram suas vidas por gramas de ouro

As roças eram fartas

Os meninos faziam caça

As meninas, a pesca

As miçangas enfeitavam as mulheres

Mas o vermelho, outrora de urucum, é de sangue

Chegaram de barco 

Espalharam mercúrio

Comeram a terra

Atacaram a tiros

Ofereceram bebida 

Roubaram comida

Deixaram aquela gente

em pele e osso 

Não dilapidaram apenas rios e matas

Tombaram velhos e crianças

Não dilapidaram apenas rios e matas

Alastraram doença e morte

Não dilapidaram apenas rios e matas

Desprezaram ancestrais

Deixaram aquela gente à própria sorte

Agora eles fogem

e enquanto fogem

tentam transformar as vítimas  

em seus algozes,

covardes. 

Na terra, essa gente é originária

mas é tida como primitiva e não serve para ficar viva

nem ser estatística

apenas apagão. 

Promoção da morte

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