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Carta à Macabéa

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Querida Macabéa,

Há algum tempo, guardo o desejo de lhe escrever, mas tinha medo de que minha ousadia fosse mal interpretada e rechaçada. Todavia, não consigo mais guardar toda a admiração que sua pessoa me inspira. Bem sei das suas fragilidades, assim como tenho certeza de que a timidez é uma das principais marcas do seu caráter e, por esta razão, imploro para que não me tome por atrevido, mas como alguém que, ao longo de muitos anos, estima-lhe de longe, platonicamente, aguardando a oportunidade de lhe expor todo o meu apreço.

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Preciso confessar que minha admiração por ti nasceu justamente dessa sua inabilidade para com o mundo. Reconheci-me na sua vida. Nessa sua “inocência pisada” que exala por todos os seus poros. Há momentos de nossa vivência que atingimos esse mesmo ponto de miséria que você sempre fez questão de nos jogar na cara e talvez seja isso mesmo o motivo que te faz tão fascinante.

Veja bem, minha querida, não quero avançar o sinal e constrangê-la, mas necessito dizer-lhe que sempre quis encontrá-la. Adoraria passear pelo parque ao seu lado e ter a chance de lhe pagar um cachorro-quente ou, quem sabe, um café com leite do jeito que você gosta. Assim como também gostaria de alertá-la sobre a pessoa de Olímpico de Jesus. Ele não é homem para você! Desculpe-me pela indiscrição, mas é necessário dizer que, com ele, Macabéa, você vive um relacionamento abusivo, algo inaceitável nos dias de hoje.

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Como alguém pode dizer à sua namorada que ela é “que nem cabelo na sopa” e por isso difícil de engolir? Ele não sabe do seu valor, querida Maca, assim como a Glória também não é boa companhia para você. Ela tem inveja da sua pureza e, por essa razão, desdenha-lhe. Se ela diz que você é feia, é porque não consegue enxergar a beleza que você guarda no seu interior.

Não deixe que ela, nem ninguém a humilhe, Macabéa! Sei que isso é difícil e entendo que, às vezes, deve-se se sentir perdida nessa imensidão que é a cidade maravilhosa do Rio de Janeiro. Porém, você não é a única! Estamos todos perdidos, tentando nos encontrar!
Também não posso deixar de mencionar que sou aficionado por rádio e que você não precisa se envergonhar das “pílulas de sabedoria” adquiridas por meio da Rádio Relógio. Se um dia esse nosso encontro se realizar, terei o enorme prazer de conversar com você sobre o “que quer dizer cultura”. Aprenderemos os dois, minha cara, numa rica troca de saberes.

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Sabe, Maca? Quando você procurou a madama Carlota, e ela fez previsões a respeito de seu futuro, torci muito para sua felicidade. Cheguei a me imaginar no lugar daquele alemão, trazendo para você a sua estrela. Esse sonho, minha querida, foi atropelado por um Mercedes amarelo, mas nem por isso foi capaz de dissipar meu encanto por sua pessoa.

Na sua ignorância, me ensinou algo muito importante: alguns seres humanos só brilham quando se apagam e que, às vezes, é melhor ser ignorante e não se dar conta do próprio sofrimento. Essa talvez também seja uma maneira de ser feliz, não é, Macabeazinha? Preciso terminar, mas antes, quero lhe dizer que, apesar de você não acreditar, sempre foste e será uma estrela a nos iluminar! Obrigado! Espero ter a chance de vê-la em breve! Fique com meu respeitoso abraço!

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