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Pelo buraco da fechadura

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Tomando café no intervalo da aula, um colega me disse: “Estou cada vez mais assustado. Vai chegar o dia em que vou me trancar dentro de casa e olhar o mundo pelo buraco da fechadura”. Tentei ser mais otimista e disse: “Ainda não é para tanto, basta ter mais cautela”. Pensando nessa nossa conversa, acabei refletindo que, de cuidado em cuidado, do jeito que as coisas estão, acabaremos, sim, encarcerados, se não dentro de casa, nas prisões que nós mesmos criamos.

O mundo, infelizmente, está dividido em bolhas. Existem os que atacam e os que são atacados. Uma lógica perversa que nos deprime, nos deixa mal-humorados, sem perspectivas. Estamos vivendo um tempo de hostilidades, que foram potencializadas pelas redes sociais. Há uma grande perda de energia em insultos, em inverdades, em ignorâncias, em prepotência. Tudo isso tende a piorar com a aproximação das eleições de outubro. Penso que boa parte dessa incompreensão em relação às coisas e ao próximo tenha a ver com a desinformação.

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O ser humano gosta muito de falar, e de falar, principalmente, daquilo que ainda não entende bem, do que não consegue nem digerir direito. O diálogo, na maioria das vezes, está rompido. Nesse sentido, as fake news reinam absolutas, trabalhando, sempre com muito êxito, para manter cada um no seu quadrado. Quando se percebe, já estamos brigando feio. Fazem-se ofensas, muitas vezes a troco de nada, sem se ter a ideia de que as palavras ferem e deixam graves consequências.

Na internet, tem-se a certeza de que, pelo menos, não se poderá ser atingido por um soco. Mas, lamentavelmente, a intolerância tem escapado do espaço digital, chegando às vias de fato, inclusive à morte. É preciso ter a sabedoria de que o direito da minha existência não pode ferir o direito da existência do outro.

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Esfriar a cabeça é sempre bom, antes que seja tarde demais. Reatar o diálogo é o caminho, mesmo que tudo pareça não ter mais jeito. Não dá mais para viver assustado, como disse meu colega. Chega de tanto obscurantismo. Se o país está complicado, temos que fazer a parte que nos cabe a fim de tentar mudá-lo.

É preciso recusar o medo que nos aprisiona, porque temos muita coisa útil para fazer. Abraçar quem amamos, reunir a família, cuidar de correr atrás dos sonhos, admirar o que é preciso admirar, corrigir as injustiças e evitar as maldades. O mundo tem muitas maravilhas para serem vistas somente pelo buraco da fechadura!

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