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Currículo não se faz de intenções nem aqui nem em Harvard

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Em meio a tantas críticas contra as universidades, oriundas de uma parcela da sociedade brasileira, é extremamente curioso como os títulos conferidos por essas mesmas instituições viraram obsessão para um tanto de gente que vem orquestrando ataques contra as mesmas. O mais engraçado é que, nos últimos tempos, a universidade americana de Harvard tenha virado o sonho de consumo de muitas figuras públicas, notadamente os políticos. Alguns, mais afoitos, colocaram em seus currículos a sua formação nesse respeitoso estabelecimento educacional, fundado em 1636, na cidade de Cambridge, sendo a mais antiga e conhecida universidade dos Estados Unidos. Todavia, nunca se sentaram nos bancos dessa instituição.

O governador do Rio de Janeiro, Wilson Witzel, por exemplo, é um dos mais recentes falaciosos ao informar em seu Lattes (sistema que reúne informações de pesquisadores de todo o país) que parte de seu curso de doutorado na Universidade Federal Fluminense (UFF) foi realizado em Harvard. Soube-se, depois, por meio da própria assessoria do governador, que essa era a “intenção” de Witzel, que nem chegou a se inscrever no processo do chamado “doutorado sanduíche”.

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Tendo Harvard números tão impressionantes como 157 laureados com o prêmio Nobel, quantidade maior do que em qualquer outra instituição do mundo, 48 contemplados pelo Pulitzer (para Jornalismo e Literatura), 14 pelo Turing (conhecido como “Nobel da Computação”), além de ter entre seus ex-alunos oito presidentes americanos – como John Kennedy, George W. Bush e Barack Obama -, não é de se admirar que nossos políticos queiram fazer parte deste rol.

O que essa história de mentir sobre possuir determinado título de determinada instituição no currículo nos faz refletir? Pois bem, é que, apesar de todo o desdém, ressentimento e inveja, as universidades seguem firmes como referendos de credibilidade intelectual. Podem cortar financiamentos para pesquisas, colocar em xeque a produção científica, aviltar professores, negando-lhes salários e condições de trabalho dignos, inclusive jogar a sociedade contra eles, imputando-lhes a pecha de doutrinadores. Porém, quando alguém, principalmente as figuras públicas, deseja dar um lustre à sua biografia, ou, numa linguagem mais coloquial, uma turbinada na autoimagem, são as universidades, com todo o lastro que possuem, que funcionam como imã para atrair qualidades, admiração e respeito.

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Enxergando essa história por outro prisma, também concluímos o que a sabedoria popular sempre nos ensinou: “mentira tem perna curta”. Esse antigo provérbio, em sua simplicidade, quer nos fazer entender, desde a mais tenra idade, que a verdade é sempre mais salutar para nossa saúde física, mental e espiritual. E não só isso. A verdade é benéfica em todos os sentidos, porque, além da paz de consciência que proporciona a cada indivíduo, beneficia a coletividade.

Para terminar, seria bom a gente pensar que um currículo não se faz de intenções. Aqui vale lembrar outro dito popular: “De boas intenções, o inferno está cheio”. Para nós, reles mortais, trabalhar com responsabilidade, estudar com afinco para atingir nossas metas e respeitar o próximo são formas de melhorar o currículo. No caso dos políticos, a implementação de políticas públicas voltadas para o bem-estar da sociedade e a realização de obras de impacto positivo para a população são ótimas maneiras de realçar a biografia.

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