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Seletividade, sociedade e Coringa

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Nesta semana, não quero falar de política. Dessa política que está todos os dias nos noticiários, transformada numa Caixa de Pandora que, a cada piscada de olho nossa, deixa escapar mais um desgosto, enchendo corações de tristeza e decepção. Quero falar de algo que está presente no nosso dia a dia. Não que a política não esteja, mas de uma coisa muito arraigada nas relações que mantemos no cotidiano e que também faz muito mal. Nos últimos tempos, tenho reparado que muitas pessoas fazem o uso da seletividade nos diversos planos onde convivem, ignorando aptidões e talentos de terceiros, intencionalmente. Para esse tipo de pessoa, não importa que se tenha o sujeito certo com os requisitos necessários para determinado fim, mas sim o quanto alguém pode lhe servir de “escada” e lhe agregar valores.

Nesse jogo de relações, não importam experiência, idade, comprometimento e sabedoria construída ao longo do tempo. Tudo isso perde o valor diante da ambição, porque não dizer ilusão, de ser mais e melhor. De se sentar ao lado daqueles que se imaginam com mais prestígio. Se você não se encaixa nesse perfil, será menosprezado. Não faz parte da famosa “panela” e, provavelmente, será impedido de entrar nela. Essa tem sido a ênfase dessa sociedade pautada no individualismo, em que a satisfação dos desejos individuais suplanta os coletivos.

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Ao dizer isso, não estou só pensando no mundo do trabalho, onde a seletividade corre à solta e é feita de propósito para podar as asas de alguém, principalmente, se esse alguém começa a se sobressair, mas nas nossas relações travadas num foro mais íntimo entre aqueles que se dizem colegas e até parentes. Só quem nunca sentiu o que é ser ignorado, talvez não compreenda essa dinâmica que pode beirar à perversidade. Os sabotadores de sonhos existem, e eles sabem muito bem como atingir e passar por cima de quem está no seu caminho.

Não sou psicólogo, nem tenho conhecimento para falar sobre comportamento humano, o que estou escrevendo aqui são resultados de observações, de experiência própria e da escuta de amigos. E também é fato que ora estamos do lado de quem ignora e, de outro, dos que são ignorados. Essa consciência de culpa é imprescindível! O mundo anda difícil demais, e as pessoas esqueceram que não vivemos bem sem o apoio e a conexão com outros humanos. Quando se opta pela seletividade, deixando alguém de lado, o resultado é sempre machucar o senso de pertencimento, porque quem se sente desprezado se considera como se não fosse digno de atenção.

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Agora, vou explicar porque decidi falar sobre isso. No último fim de semana, assisti ao filme Coringa e com atraso, pois não sou do tipo que corre para ver os filmes do Oscar e também não me importo com spoilers. Considero que um filme seja muito mais do que saber apenas de seu enredo. Ao me deparar com o personagem Arthur Fleck, o homem atrás do Coringa, fiquei impressionado com sua história de inadequação ou como a sociedade o coloca nessa posição de inadequado e passa a desprezá-lo. Entre tantas leituras possíveis, Coringa me fez refletir sobre a seletividade e a falta de empatia que impera nos tempos de hoje.

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