Minha filha tem oito anos e, daqui a mais oito, ela terá 16, a mesma idade que tem, hoje, a adolescente ativista Greta Thunberg. Como pai, adulto, cidadão e jornalista, uso o espaço desta coluna para dizer sobre a indignação e a perplexidade que me causaram a atitude de figuras públicas, homens adultos, que, das posições que ocupam, não mediram palavras e artifícios para atacar a imagem da adolescente sueca que se coloca como uma voz madura, consciente e importante na luta contra a catástrofe que se anuncia, se nada for feito para reverter os efeitos do aquecimento global.
É inaceitável que homens, como o jornalista Gustavo Negreiros, agora ex-comentarista de uma rádio, em Natal (RN), tenha usado o microfone da emissora para dizer que Greta “precisa é de homem” ou “uma fêmea”, afirmando que, se a adolescente não gostasse de homem, deveria pegar uma mulher, pois ela estaria “precisando de sexo”. A fala desrespeitosa do jornalista, que já foi demitido, foi proferida depois que Greta discursou na ONU, alertando a comunidade internacional sobre a emergência climática. Antes de deixar a rádio, Gustavo Negreiros teve que se reparar das ofensas à adolescente no último programa. “…fiz um comentário infeliz a respeito da ativista sueca. Foi péssimo e lamentável, me envergonho do comentário”, desculpou-se.
É muito paradoxal constatar que pessoas que se dizem de “bem” e defensoras da família venham a público atacar de forma infame uma menina, incentivando outras, também cheias de preconceito e de ódio, a agredirem a garota. Até o fato de ela ser Asperger, condição do espectro do autismo, foi motivo de agravo para os opositores da adolescente. Aqui cabe a reflexão: todo o respeito à família, desde que seja para a minha família. Com as demais famílias e as filhas dos outros, a história é outra. Da mesma forma desprezível, o deputado federal Eduardo Bolsonaro usou sua conta no Twitter para lançar mentiras e chacotas contra a ativista, tentando macular a imagem dela por meio de uma fotografia manipulada. Essa conduta, além de lamentável, é irresponsável por parte de alguém que postula a função de embaixador brasileiro nos Estados Unidos e deveria seguir uma liturgia que é inerente ao cargo. Até o músico Roger, do outrora famoso Ultraje a Rigor, banda que gozava de prestígio na década de 1980, compartilhou uma publicação comparando a “sueca de hoje”, referindo-se à Greta, à “sueca da juventude” do cantor, uma mulher loira e totalmente sexualizada.
A ativista reagiu às críticas e também no Twitter anunciou: “Eu honestamente não entendo porque adultos escolheriam perder seu tempo tirando sarro e ameaçando adolescentes e crianças por promoverem ciência, quando eles poderiam fazer algo bom ao invés disso. Eu acho que eles simplesmente se sentem muito ameaçados por nós”, afirmou.
Eu concordo absolutamente com Greta e também não aceito que homens adultos desfiram os seus recalques contra uma adolescente que tem usado sua voz, adolescência, sensibilidade e inteligência para dizer ao mundo que é hora de acordar, antes que seja tarde para o nosso futuro. Como pai de menina, que será adolescente daqui a alguns anos, não posso compactuar com o machismo que quer tentar silenciar as mulheres. Como homem adulto, eu peço desculpas à Greta por tantos insultos e torço para que suas palavras alcancem muito mais meninas e adolescentes mundo afora, para que se sintam motivadas a fazerem do planeta um lugar melhor para minha filha e para as filhas das próximas gerações!