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Não quero ser morto

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Bruno, Dom, Marielle. Todos tinham uma arma apontada para suas cabeças. Sem a devida punição para esses crimes, nós é que estaremos com armas apontadas para nossas cabeças. Pensar assim parece exagero, mas, em um país que não se cansa de maltratar sua gente, há muitas formas de ser morto.

Gabinetes paralelos, orçamentos secretos e propinas para desvio de verbas são armas mortíferas apontadas na direção do nosso futuro. A corrupção mata a chance da juventude de periferia se desenvolver nos estudos, cursando uma escola pública. É assim que também se mata quem espera do SUS o tratamento adequado para algum tipo de doença. É dessa forma que se mata os matáveis, os escolhidos para se deixar morrer, enquanto uma minoria anda de S10, tira onda de patrão, agitando sua bandeira verde e amarela ao sabor do vento.

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É inverno por aqui e lá fora o frio castiga quem dorme sobre o concreto gelado da calçada. A cara da fome assusta em cada esquina, nos semáforos e nas portas dos supermercados. Quem tem privilégio de receber salário faz malabarismo para o dinheiro render até o fim do mês quase sempre sem sucesso. A inflação não deixa essa conta fechar.

Se não bastasse, surgiram denúncias de assédio no alto escalão da Caixa. Em meio a tanto sofrimento, existe a ignorância que mata direitos das mulheres, das pessoas LGBTQIA + e dos indígenas. Por que há tanto incômodo com o diferente a ponto de um tricampeão mundial ofender sua própria história incitando o preconceito com comentários racistas? Por que é tão difícil viver e deixar viver?

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Neste ínterim em que a indignação me devora, o escárnio grita, deixando sob sigilo de cem anos faturas de cartões corporativos e encontros com pastores lobistas. Que diagnóstico é possível do tempo presente que não passe pela constatação de uma instabilidade econômica, política e social, marcada pelo desprezo à democracia e à vida?

Este texto foi redigido de madrugada. Estava sem sono e queria escrever sobre outros assuntos, mas é difícil não deixar no papel o que nos atravessa. Não dá para fazer cara de paisagem com o país a esmorecer. Quem não se sente golpeado de alguma forma corre risco de cumplicidade. Na coluna da semana passada, falei sobre a necessidade de reação contra esse estado de coisas que nos assola. Sei que é difícil começar e estamos fracos e divididos, mas não quero ser morto e acho que você também não.

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