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Minissaias, calcinhas, fábricas e cultura do estupro

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Procurei diversas maneiras para iniciar este texto. Mas não há forma melhor do que dizer que o estupro é um crime hediondo, intolerável e injustificável. Ele viola a dignidade sexual da vítima e afeta, para sempre, a sua vida íntima e social. É uma violência que representa danos irreparáveis a quem sofre essa agressão.

Todavia, neste Brasil medieval em pleno Século XXI, há aqueles que ainda insistem em enxergar o crime com olhos do passado, colocando na mulher a culpa de ser violentada. É mais assustador ainda quando essa visão vem, justamente, de quem tem o poder e os instrumentos para combater esse tipo de criminalidade. É inadmissível existir autoridades que considerem a ocorrência de um estupro ser motivada pela falta de uso de calcinha. É uma irresponsabilidade desmedida dizer que a instalação de uma fábrica de peças íntimas femininas seria a solução para que meninas parem de ser estupradas.

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Esse raciocínio, que só posso considerá-lo como abjeto, faz coro àquele que imputa à minissaia a culpa de aguçar no estuprador o ímpeto de atacar sua vítima. Então, será que algum governante também terá a portentosa ideia de mandar fechar todas as fábricas que produzem minissaias como mais uma estratégia de combate ao estupro? Vai saber, né? O que os detentores desse tipo de pensamento sequer supõem e precisavam entender é que o estupro existe há muito mais tempo do que a moda da minissaia.

Fico pensando sobre o que será de nós, brasileiros, nas mãos de pessoas que perderam o senso de realidade. Quais os tipos de políticas públicas poderemos esperar para a erradicação das mazelas que ainda pairam sobre nossa sociedade? Como voltar a ter esperança de dias melhores se, a cada manhã, temos o receio de olhar os jornais e ficar sabendo da última tolice proferida da boca de ministros e afins? São perguntas cujas respostas ainda não temos, e, o pior, pode ser que sejam tão desagradáveis que é melhor não sabê-las!

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Voltando a falar sobre o assunto que rege esse texto, não há como negar que vivemos arraigados na cultura do estupro. E sob o seu escudo, o crime, quando não se encaixa na silhueta da mulher aceita pela sociedade, é responsabilidade da vítima. Só as “recatadas e do lar” são resguardadas dessa mácula. Já a mulher lésbica, a mulher que usa roupa curta e justa e a que fica sozinha à noite em local ermo estão sempre à procura de seu algoz.

Ao longo dos séculos e, infelizmente, ainda hoje, as mulheres sentem o peso de exercerem de forma livre a sua sexualidade. Em cima delas são executados variados controles oriundos de diferentes instituições sociais. Como parte da discriminação que sofrem, as mulheres são despojadas do direito de decidir o usufruto de seu corpo. Elas se reprimem e acabam colaborando para a punição moral daquelas que insistem pela liberdade.

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Nestes tempos de utopias perdidas, acabar com a cultura do estupro depende de um processo social e coletivo, mas também individual, que vai da empatia ao apoio efetivo às vítimas, o que também é uma forma de punir os agressores. E, claro, para terminar, é preciso alertar que sexo é algo consensual, o que for diferente disso é violência!

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