O novo mundo é logo ali na estrada para o pequeno povoado de Humaitá, na Zona Norte de Juiz de Fora. Tem até ônibus na porta. Mas como estamos em pleno século XXI, tem também acesso virtual: www.reservaprodutosorganicos.com.br. É essa uma boa definição para quem chega à Fazenda Reserva dedicada à produção de alimentos orgânicos e onde vivem as 800 galinhas mais felizes das redondezas.
Menina dos olhos do empresário Marcelo Mendonça que sonha contribuir para que a agroecologia devolva à Zona da Mata o desenvolvimento interrompido, a propriedade de 200 hectares emprega 12 trabalhadores. Gente que veio de longe e percorreu o país, como o engenheiro agrônomo, especializado em agricultura orgânica e biodinâmica, Flávio Togni Ferreira, e gente bem de perto, como a gerente, Rosa Ribeiro Herculano, que nasceu há poucos metros da Reserva, onde vive atualmente com o marido e a filha Laura, de dois anos.
Aguados pelas nascentes da fazenda (água de mina) que correm para o Rio do Peixe, os alimentos orgânicos da Reserva contrariam todos os rótulos que produtos deste tipo já receberam. Como são vendidos direto do produtor para o consumidor final, por meio do site e das feiras especializadas realizadas em Juiz de Fora, os preços são até mais competitivos que o das hortaliças e folhosas comuns, em geral comercializadas via atravessadores. E o tamanho das verduras é de encher os olhos diante da exuberância da natureza.
“As hortas de orgânicos são bem diferentes de hortas comuns, porque preservamos o mato que cresce em torno da plantação, para que as pragas se alimentem dele e não das verduras. Se tirarmos o mato, não daremos outra opção a elas se não avançar sobre os alimentos”, conta Marcelo ao mostrar, orgulhoso, os repolhos, enormes, prontos para a colheita e naturalmente livres de invasores.
Além deste detalhe importante no cultivo, há outros diferenciais: variedades de hortaliças são plantadas em um mesmo canteiro. “Tudo junto e misturado para enganar os insetos”, explica o engenheiro agrônomo. Isto porque em um canteiro com uma única espécie, eles identificam com facilidade o padrão do cultivo. Com a mistura, ficam confusos e gastam mais energia procurando seu alimento.
Além de beterraba repolho, alho poró, folhosas, temperos, cenoura, milho, banana, mandioca, cana, maracujá, pitaia (espécie de cactos), goiaba e amora preta- alimentos em cultivo, alguns prontos para a comercialização, a Fazenda Reserva é rica também nas conhecidas PANCS (plantas alimentícias não convencionais). No Brasil, já foram encontradas mais de 2 mil variedades, explica Flávio, mas seu enorme potencial ainda é pouco conhecido, embora cada vez mais pessoas façam delas importante fonte de nutrição.
Ovos de galinhas felizes e shitake
Em área de dez mil metros quadrados, cercada de árvores frutíferas e da plantação de pimentas que tanto apreciam estão as galinhas poedeiras da Fazenda Reserva. “Como estão livres para explorar o ambiente e com dieta rica em frutas, verduras e bichinhos a gente pode dizer que são galinhas felizes”, brinca o empresário, Marcelo Mendonça, fazendo afago nos animais que não se estressam com a proximidade das pessoas.
Tudo no galinheiro é pensado para deixá-las tranquilas. Inclusive os poleiros, que seguem o padrão da natureza (galhos das árvores) com níveis mais altos entre um e outro, obedecendo hierarquia que existe na espécie. “Recriamos as referências que elas já têm”, observa o empresário. O resultado são ovos de excelente qualidade, com gema de um colorido especial e 100% natural em função do consumo da pimenta, fruto da descoberta dochef nova-iorquino, Dan Barber, que a Reserva decidiu apostar.
Outro destaque da propriedade é a produção de shitakes. Delicados cogumelos comestíveis 100% orgânicos, cultivados em toras produzidas na própria fazenda. Ao todo são 900 delas, onde estão inoculadas, por meio de pequenos furos, as cavilhas compradas em Valinhos (SP). “Minha vida melhorou muito desde que comecei a consumir os produtos orgânicos”, explica a gerente Rosa Herculano, responsável por comercializar os produtos da fazenda nas feiras de Juiz de Fora. “Não troco o ar puro por nada”, diz, Rosa que não gosta nem de ouvir falar em mudança para a cidade.