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O desprezo pela ‘favela’

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Presidentes de Vasco e Flamengo durante visita a Bolsonaro em Brasília nesta terça-feira (Foto: Reprodução/Instagram)

Há duas semanas, neste looping quase infinito que tem se tornado o assunto coronavírus, externei nestas linhas minha crítica em relação aos que desejam o retorno do futebol brasileiro em meio a uma pandemia que mata a cada dia mais e mais brasileiros – ainda sem previsão para alcançar o pico.

Como flamenguista, poderia eu estar falando da reprise de Flamengo e River no domingo pela Globo, que fez novamente o grito de gol ecoar pelos blocos do meu condomínio e até fogos serem ouvidos na vizinhança. Mas essa rubro-negra que se emocionou novamente com os últimos três minutos daquele jogo histórico não seguirá por este assunto.

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Aquele Flamengo do Mister Jesus, campeão da Libertadores e do Brasileiro em um mesmo fim de semana, infelizmente, não consegue ofuscar meus olhos aos deslizes cometidos pelo clube. Após a horrenda tragédia no Ninho do Uburu, que dirigente nenhum poderia ter negligenciado, o time carioca mais uma vez escorrega fora de campo.

Ao se reunir com Jair Bolsonaro, em Brasília, a comitiva de Rodolfo Landim esquece completamente, mais uma vez, de uma parcela importantíssima de sua gigante torcida: aqueles rubro-negros mais simples, menos abastados financeiramente, que vivem pelos morros da Cidade Maravilhosa. Torcedores “raiz”, que formam a identidade do Clube de Regatas do Flamengo.

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Diante de uma doença que coloca centenas de cariocas nas filas de espera dos hospitais públicos do Rio, sobretudo os mais pobres, um encontro com o presidente da República justamente na mesma data que o país bateu a casa de mais de mil mortos em um único dia, é virar os olhos à “favela”, tão celebrada nos cantos vindos das arquibancadas.

Obviamente, pelos investimentos vultosos no elenco e sem um Maracanã que vinha arrecadando milhões a cada jogo, com sucessivas partidas com público superior a 50 mil torcedores, a receita rubro-negra sofre um déficit inimaginável para um ano que começou tão promissor.

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Ao se unir a Landim na capital federal, Alexandre Campello, dirigente vascaíno, também nega a tradição do clube de São Januário em zelar pelo periféricos.

Quem diria que Crivella e Witzel, com seu pensamento exterminador, ao defenderem a paralisação das atividades esportivas por mais tempo, estariam sendo mais racionais. Quem diria!

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Sem entrar no mérito político, assunto que sempre evitei aqui neste espaço, ir a Brasília neste momento, definitivamente, é mais uma marca negativa que nem meu coração rubro-negro consegue tratar com parcialidade. Mesmo sendo responsabilidade do Estado – e não do Flamengo – os cuidados com os acometidos pela Covid-19, defender o retorno das atividades num estado tão afetado pela pandemia, em uma cidade onde instituições renomadas pedem lockdown, não condiz com a postura de um clube da grandeza do Rubro-Negro.

A “favela” pode esperar pelo futebol. O adversário, como escrevi há duas semanas, ainda continua o mesmo: o coronavírus.

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