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Lewis e o orgulho de outrora

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Os apaixonados por automobilismo que me perdoem, mas, assim como muitos outros brasileiros, já não acompanho tão assiduamente a Fórmula 1. De uns bons anos para cá, raríssimas provas acabaram me prendendo. Na de domingo, o fato de ser disputada em Interlagos chamava a atenção e, sem muita expectativa, decidi acompanhar a largada, parte sempre emocionante, que casava justamente com a minha sesta pós-almoço. E, entre um cochilo e outro no sofá, a televisão, por sorte, se manteve ligada. Sintonizada até o grandioso momento protagonizado pelo inglês Lewis Hamilton, talvez um dos mais bonitos da história dos GPs brasileiros.

Do ponto de vista técnico da disputa, o britânico dispensa comentários. Chegou ao Brasil cabisbaixo pelo mau desempenho no México, onde sofreu vaias pelo carro aquém da concorrente RBR, anunciou que trocaria de motor para tentar fazer uma prova melhor em São Paulo e, pelo regulamento, perdeu cinco posições no grid de largada. Penalizado mais uma vez por infração no carro, largou em último na Sprint Race, no sábado, e em 10º no domingo. Em uma única volta, pulou para sexto. E assim foi até chegar com sua Mercedes em primeiro.

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Mas o que chamaria mesmo a atenção do público geral estaria na ousadia do britânico ao repetir o gesto de Ayrton Senna, ídolo confesso de Lewis, empunhando a bandeira brasileira na pista de Interlagos. Um inglês (portanto, europeu), maior vencedor de todos os tempos da F1, ícone mundial do esporte, associando sua imagem de sucesso ao verde e amarelo tupiniquim, da ‘república das bananas’ da América do Sul. Um gringo. Tremulando a bandeira do Brasil. A mesma que, em tempos de politização, virou motivo de discórdia entre a nação. E seguiu com ela até o pódio, até o hino e até a entrega do troféu a Leonardo da Silva, engenheiro mineiro de Patos de Minas, funcionário da escuderia alemã, um dos responsáveis pela vitória do britânico e pelos pontos da equipe na briga pelo Mundial de Construtores.

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Talvez Hamilton e nós, ainda no calor do acontecido, não tenhamos nos dado conta do quão emblemático foi aquele momento. Algo que só vá ser totalmente compreendido tempos depois, como naquelas imagens de Senna, no fim dos anos 80 e início de 90.

Por um momento, Lewis foi brasileiro. Se superou, festejou e se emocionou como um de nós. E deu a nós, brasileiros, a chance de recuperar o orgulho perdido.

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Até mesmo na F1.

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