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Politizaram o futebol, Januário

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Januário, quando li sobre seu falecimento, confesso aqui que tive que fazer um breve esforço para ligar nome à pessoa. Mas seus bordões logo me fizeram voltar aos meados da década de 90, quando eu, uma pirralhinha de menos de 10 anos, já me amontoava com meus tios para assistir jogos de futebol. Naquela época, expressões como “sinistro”, “é disso que o povo gosta!” arrancavam risos quando alguém na sala da casa da minha avó tentava repeti-las.

Lá, da casa da vó e do vô, assistíamos Band, SBT, Manchete, Globo. Você, Luciano do Vale, Téo José, Silvio Luiz… Na ingenuidade de uma criança, eu ainda não entendia o porquê de a partida passar em um canal e não no outro. Na verdade, pouco importava, desde que passasse, nem que fosse o compacto depois – caso do lendário Fla-Flu do gol de barriga de Renato Gaúcho, que meu pai, tricolor, já sabendo pelo rádio, festejava por antecipação naquele ambiente todo rubro-negro.

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Na segunda, além da sua morte, Januário, a internet, esse maravilhoso ambiente no qual podemos assistir jogos on-line e acompanhar nossos times pelas redes sociais, fazer apostas, zoar o amigo do time rival e mais um punhado de coisas, se viu digladiando-se com a decisão de sediarmos a Copa América. Você, em seus últimos dias, não deve ter acompanhado, mas politizaram também o futebol, Januário. Uma disputa política tão forte sem chance para uma análise mais racional da situação – infelizmente, de ambos os lados. Os que criticaram a Copa do Mundo agora escrevem “Vai ter Copa (América)”. Já quem era veementemente contra a realização do Mundial de 2014 no Brasil agora defende que nosso país é capaz, sim, de receber a competição sul-america que começa daqui a alguns dias.

Os canais de TV, que quase não chegam mais pela parabólica, voltaram à concorrência daquelas décadas passadas. Era assim também no passado ou eu, naquela mente ainda infantilizada, não enxergava tantos interesses envolvidos por trás dos eventos esportivos, Januário?

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Acho que a pandemia não está fazendo bem para ninguém, meu caro. Estamos todos loucos. Tomara que, no plano para onde você foi, as coisas estejam melhores. Porque agora está tudo “cruel, muito cruel”, como você dizia.

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