Quiseram os deuses do futebol que na receita para a maior popularidade do planeta no esporte houvesse a força do imprevisível. Que nem sempre o time mais estruturado alcance o sucesso. Que os afogados financeiramente ganhem oxigênio para mais de uma temporada em virtude de 90 minutos dos sonhos. Mais que em qualquer outra modalidade coletiva. Mas que a arte da bola nos pés tivesse na mesma proporção, paixão e injustiça.
Quiseram os deuses do futebol que tais características fascinantes enchessem o coração de torcedores com títulos como o do Leicester, na Premier League; que o Pelotas fosse campeão da Recopa Gaúcha; o Caxias vencedor do primeiro turno do Estadual no Rio Grande do Sul. Que um clube juiz-forano chegasse à Série B do Campeonato Brasileiro sem estrutura de terceira divisão nacional, sequer. Ótimo para os torcedores de arquibancada, aqueles que, no fim dos mandatos, nos acessos ou rebaixamentos, são os que ficam.
Imprevisível ou não, contudo, a possibilidade do sucesso por linhas tortas é uma via de mão dupla. Ela também leva clubes a buscarem caminhos curtos e taparem o sol com uma peneira. O investimento em base, estrutura e conhecimento pode ser postergado. O importante passa a ser o resultado imediato. É o movimento político.
Automatiza-se o processo de injustiças. Ganhou o jogo, tudo está certo. Perdeu? Hora de mudar. Quando o correto, na verdade, deveria ser analisar cada situação. Ganhou o jogo? Ótimo. Mas a vitória ocorreu de que forma? O time se mostrou organizado ou achou um gol e foi pressionado durante os outros 89 minutos? Perdeu? Mas a derrota veio por um time confuso em campo ou consciente das ações com e sem a bola? Há espaço para a evolução? O trabalho do dia a dia é bem realizado e foi colocado em prática?
Questões simples que não são colocadas na mesa em todas as regiões do país no futebol. E em Juiz de Fora não poderia ser diferente – na verdade, deveria ser há muito tempo! São necessárias quatro rodadas para atribuir a culpa a um profissional entre mais de 30 em um clube. O mesmo período fornecido para que este funcionário, ao lado de poucos outros, formasse, do zero e sem recursos, uma equipe e recebesse nas costas a obrigação de um acesso.
É mais fácil. É imediato. Os cursos da CBF deveriam ser voltados às mágicas. Ah, “futebol”, como você é injusto.