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Chama da esperança

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Demorou toda uma vida, mas, bem recentemente, eu compreendi que sempre interpretei errado o mito do brasileiro cordial. Entendia o cordial como características de afabilidade e amabilidade e ponto final. Hoje, já olho esse chavão pelo outro lado da dubiedade da palavra cordial, que também se remete àquilo relacionado ao coração e, portanto, à passionalidade.

O brasileiro é, sim, um sujeito passional, dado ao exagero do amor e do ódio; da esperança e da desesperança. Tristemente, os últimos tempos têm sido mais do ódio e da desesperança. O brasileiro comum, hoje, tem se mostrado um ranheta.

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Na política, por exemplo, odeia tudo que ele é diferente, restringindo quase toda e qualquer possibilidade de diálogo, tão necessário na vida coletiva. Como Narciso, que acha feio o que não é espelho, a gente tem odiado demais, e isso tem nos tornado desesperançosos.

Tudo bem, motivos para desesperança não faltam. Ainda estamos vivendo uma pandemia. Mas, eu te digo, a fagulha da esperança está lá. Mesmo que vacilante, ela se mantém acesa. Sempre. Afinal, os passionais são dados ao exagero da esperança.

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Por mais ranhetas que estejamos hoje, tanto que, diuturnamente, damos margem para sermos governados e influenciados por discursos de ódio, por vezes, damos sinais de que sim, somos capazes de acreditar em um futuro melhor.

Esse meu olhar pode parecer forçado, eu sei. Principalmente, quando a gente enxerga a irracionalidade que tem tomado conta da nossa discussão pública. Mas sempre gostei de olhar o futebol como um espelho de nossa sociedade, e daí tirar certas percepções.

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O torcedor de futebol é como o brasileiro. Passional e dado ao amor e ódio; à esperança e à desesperança. Para entender que ainda somos capazes de acreditar, basta olhar para o esporte.
Por exemplo, por pior que seja o momento de nossos clubes de coração, ao menor sinal de que a chave possa virar, já estamos lá, esperançosos e crédulos de que existirão, de fato, dias melhores.

Exemplos não faltam. Há pouco tempo, os flamenguistas, por exemplo, mostravam certa descrença com o trabalho de Rogério Ceni e, até mesmo, com o primeiro jogo sob o comando de Renato Gaúcho. Após duas belas vitórias nos últimos jogos, lá está a esperança de voltar a vencer tudo.

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Por aqui, não é diferente. O Tupi vive, de longe, a pior fase de sua história recente. Mas andou sapecando 3 a 0 no Módulo II do Campeonato Mineiro. O suficiente para ver carijós, aqui e acolá, revelando a esperança no sorriso.

Olha o caso dos corintianos, cujo o time não joga bem há algumas temporadas, e que, agora, estão todos muito confiantes com a chegada de dois reforços pontuais, no caso os meias Giuliano e Renato Augusto. Exemplos não vão faltar.

Enfim, digo isso para reforçar para tudo que tenho de cordial de que é importante, sempre, cultivar essa vacilante chama da esperança. Mesmo que a má fase do meu time pareça eterna; ou o momento do país pareça tão difícil. É porque a esperança me torna capaz de sonhar e, o mais importante, de dialogar em busca de consensos por dias, de fato, melhores no campo e no cotidiano.

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