O ditado popular rege que, para o craque, um palmo de terra é um latifúndio. A máxima tem lá suas verdades. Basta lembrar o que fez Pelé em 1970, quando, à frente do goleiro Mazurkievski, trocou o confortável “chegar chutando” por um memorável drible da vaca. Os grandes gênios têm a capacidade de mudar de ideia em velocidades inenarráveis. Algo para poucos. Mas nós, mortais, também precisamos aprender a deixar de velhas certezas por um mundo melhor. Ao menos, tenho me esforçado diuturnamente neste sentido e, por vezes, sinto-me ultrapassado durante o processo. Até no futebol – de verdades inquestionáveis -, tenho tentado dar o braço a torcer, como fiz em relação ao tal Cristiano Ronaldo no último domingo.
Sempre achei o gajo marrento. Craque ególatra, de cabelos engomados e aficionado por flashes. Com essa certeza previamente concebida, foi preciso um momento de redenção do português para me fazer enxergar além das aparências. O martírio vivido pelo craque na final da EuroCopa revelou o lado mais forte de um jogador estigmatizado. No choro de dor, da substituição precoce e do quase fim de um sonho diante da França, o português mostrou a face mais bela de seu caráter. Não escondeu seu sentimento – nada egoísta -, como também não poupou esforços físicos e psicológicos para empurrar Portugal ao título, agindo como técnico, maestro e motivador à beira do gramado.
Ao final, Cristiano Ronaldo me surpreendeu uma vez mais ao dedicar o título europeu aos imigrantes. Assim o craque não só me fez mudar o conceito que eu tinha em relação a sua pessoa, como também anotou um belo gol contra aqueles que não conseguem superar seus “pré-conceitos” e preconceitos. Como craque que é, provou que é possível fazer de um palmo de terra um verdadeiro latifúndio. Basta superar a intolerância.