É interessante como nossas perspectivas mudam ao longo da vida. Quando criança, como a maioria dos nascidos abaixo dos trópicos, só queria ser jogador de futebol. Imaginava-me vestindo a camisa de um grande clube – de preferência, a do meu Corinthians. Apesar de defender minha identidade pessoal, tal qual o Viola, sempre gostei do chiste de referir a mim mesmo na terceira pessoa. Assim, o sonho do Renatinho era jogar na Seleção e ser como alguns de seus ídolos.
O tempo passou. Não fui Sócrates. Não fui Neto. Não fui Viola. Não fui Marcelinho. Mas fui, em primeira e terceira pessoa, Renatinho. Joguei minhas peladas em quadras de cimento e campos esburacados Juiz de Fora afora – com o perdão do cacófato. Vivi o futebol à minha maneira. Como um jogador em início de carreira, dediquei-me à bola e aos estudos da maneira que conseguia. Como um veterano, equilibrava jogos e baladas intermináveis.
Enfim, as peladas semanais e campeonatos amadores foram regra em minha vida. Ao menos, até meus vinte e tantos anos. Não joguei no Corinthians e nem na Seleção, mas enverguei as camisas do Everest e do Revirão – só para citar as que mais me envolvi – com a raça de um Dunga bem-educado. A vontade de “viver” da bola permanece indelével. Entretanto, a cada dia, fica mais difícil conseguir arrumar uma pelada ou sair da cama nas raras oportunidades que aparecem.
Essa época do ano me deixa saudosista, mas, hoje, admito que não penso mais em ser Pelé, Maradona, Rivelino, Sócrates ou Neto. Só queria ser o Paulo Baier e, passados os trinta e poucos anos, conseguir manter meu futebol semanal em dia e com dignidade.