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Sem válvula de escape

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“O mundo não dá volta, ele capota!” Olha, amigo, o tanto que escutei essa frase de uns tempos para cá não está no gibi. No Brasil da política personalista e da agenda governamental negacionista, em que o presidente incentiva a circulação de um vírus mortal, todo dia é uma nova capotagem. Somos sobreviventes de uma tragédia cotidiana, nadando no barro do volume morto de um poço sem fundo. Sabe aquele time que desde a metade do primeiro turno já deixou claro que será rebaixado? Pois é, nossa situação é um pouco pior.

Entre uma capotagem e outra em moto perpétuo, a sensação é de que tudo está de pernas para o ar. Nesse cenário torto, as percepções e as referências têm mudado um tanto. Ao menos para mim. As horas passam diferente, sabe? Tudo parece estranho. Até mesmo velhas certezas já não são as mesmas.

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Por exemplo, a rotina de se preparar de três em três dias – domingo/quarta/domingo – para acompanhar o jogo do time de coração parece algo esgarçado. Sempre considerei o futebol uma válvula de escape, mas não dá para escapar de um cenário de omissão que mata milhares de pessoas por dia. Todos os dias.

Essa semana botei uma camisa do meu Corinthians para gravar um vídeo. Nem tinha jogo, o futebol paulista está parado. Corretamente, parado. A peça escolhida foi uma retrô. Uma que mimetiza o uniforme do título de 1977. Do gol chorado de Basílio.

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Botei a camisa e bateu uma “bad”. Não pelo momento “bad” do meu Timão – tá osso, mano! Mas pela saudade de um passado recente em que a gente podia se dar ao luxo de ficar genuinamente preocupado com coisas mais triviais, como aquela tensão de um jogo de meio de tabela de campeonato estadual. Este é um luxo que não temos mais. Ao menos, não até o apito final desse campeonato macabro de negacionismo e falta de empatia que tanto reforça o time do vírus.

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