Lá vai ela, passadas firmes e nem sempre com um sorriso no rosto. Na mão esquerda, o copo de cerveja, na direita, a faixa do seu time de coração. Ao seu lado, sempre a companhia da mãe. Leva aos jogos do seu time pelo Brasil inteiro sua companheira fiel nas viagens que acompanha o time do litoral ao semi-árido nordestino. Nas costas, além do número 9 do seu artilheiro preferido, carrega a responsabilidade de torcer pelo esporte da cidade, coisa que ela sabe bem. Na imaginação, a capa do jornal do dia seguinte com seu atacante batendo no peito na comemoração de mais um gol. Para muitos, ele bate no escudo, mas para a ilustre torcedora, que entende do esporte, o guerreiro goleador bate é no coração.
Na portaria da arena deixa o seu copo de cerveja. “Não pode, minha filha.” Insiste o segurança com um olhar de dó para aquele copo meio cheio, talvez para ela meio vazio. Foram umas três talagadas em cinco segundos para ficar totalmente vazio. Com uma coleção de elogio às normas que impedem sua cervejinha dentro do estádio, ela se dirige para a arquibancada. De lá ela corneta todo mundo, do goleiro ao diretor de futebol. Sabe o nome de todos, critica o esquema tático, as condições do campo e, mais uma vez, a falta da sua cerveja lá dentro do estádio.
No fim, para ela não importa a derrota. Ela transforma em vitória. Sai firme, cabeça em pé, consciência limpa do seu dever cumprido. Foi lá honestamente e torceu para o seu time. Vestiu a camisa e gritou da arquibancada. Estendeu sua faixa e passou a sua mensagem. No peito, sim, ali mesmo, atrás do escudo, carrega o orgulho do dever cumprido, de ter acompanhado o seu time em todas as divisões, nos altos e nos baixos. E não há quem duvide que no jogo seguinte ela volta, com a mesma energia de sempre, desimpedida na banheira.