O que leva uma pessoa a caminhar quase 30 quilômetros por dia por dez dias? Essa é uma pergunta que todo romeiro já ouviu alguma vez na vida. Mas a resposta não pode ser dita, deve ser vivenciada. O corpo dói, mas a mente ignora, e as pernas teimam em seguir adiante. O que tenho presenciado nestes dias acompanhando os peregrinos que seguem de Juiz de Fora ao Santuário de Aparecida é algo difícil de ser compreendido por uma pessoa sem fé. A fé vence toda e qualquer dor.
“Você vai caminhar hoje?”, pergunto a uma companheira que, na noite anterior, presenciei chegar ao ponto de apoio com os pés doloridos e cheios de bolhas. “Sim, Nossa Senhora está comigo, e eu vou conseguir.” E consegue. E assim são todos os dias, com todas as pessoas.
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Olho aqueles rostos e tenho a impressão que chegaram ao limite. Mas não. A fé permanece inabalável. Na escuridão da madrugada, os devotos rezam e se renovam para mais um desafio, seguindo firmes no propósito de cumprir o trajeto a pé.
A força do grupo emociona quem mora no caminho da romaria. Dona Clara Regina Duque faz questão de abrir as portas da casa para os devotos. Na mesa farta, todos os quitutes foram feitos por ela, inclusive a manteiga. ” Não compro nada, faço questão de fazer eu mesma.”
Poucos quilômetros à frente, seu Alair e dona Maria José repetem o gesto de generosidade. A oração é o agradecimento dos peregrinos.
E assim os devotos chegaram, neste sábado (20), a Santa Isabel do Rio Preto, distrito de Valença (RJ), após 36 quilômetros de caminhada. Nossa hospedagem será em uma escola. Mas o banho quente, eu e outros companheiros pudemos tomar na casa da família de Márcia Cristina da Silva Cunha. Ela dividiu com a paróquia do distrito a receptividade aos peregrinos.
Neste domingo, seguiremos para São Joaquim, também no Estado do Rio de Janeiro, o menor percurso do trajeto (22 quilômetros), porém, o mais difícil, segundo os experientes, por causa da subida. Mas para os devotos de Nossa Senhora Aparecida não há dificuldade que não possa ser vencida.
