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“Trem das Onze”

Foto: Pixabay

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No mundo dos adultos, cumprir horários envolve certa apreensão. Um minuto a mais, e você perde uma oportunidade. Um minuto a menos, e a sensação de que o tempo é insuficiente segue com você por um período indeterminado. Estamos sempre no limiar entre as duas coisas. Passei a ouvir ‘Trem das Onze’ de uma maneira diferente, conforme os anos foram passando. Toda vez que saio, sinto na pele a ansiedade da personagem de Adoniran, que mora em Jaçanã.

Morando do outro lado da cidade ao longo de três décadas, por centenas de vezes, precisei me levantar e dizer que não poderia ficar nem mais um minuto com as pessoas que estavam comigo. De fato, sinto muito pelas conversas inacabadas que deixei para trás, pelos papos que não pude alongar. Porém, se perdesse o ônibus, teria que prejudicar meu tempo de descanso, ou me expor a riscos que prefiro não correr. Mesmo não sendo filho único, tenho minha casa para olhar. Por incontáveis vezes, não pude mesmo ficar, ainda que sob o protesto e descontentamento dos meus amigos.

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Ontem, o aplicativo me avisou: “Tá na hora, meu filho! Corre!” Mas ele estava enganado. Seguiu-se uma espera de mais de 50 minutos. No ponto de ônibus, inicialmente, havia outros companheiros de região. Os coletivos deles chegaram antes do meu. Mas eu não fiquei sem companhia. Um cachorro encardido, de pernas longas e olhar doce, se aproximou. Pulou em cima de mim, como se me conhecesse bem. Ele me cumprimentou como um anfitrião empolgado.

Fiz carinho na cabeça dele, e ele deitou aos meus pés, como se além de companhia, me oferecesse proteção. Queria muito ter feito algo por ele, que me ofereceu a amizade dele nos minutos que passamos ali. Mas lá em casa tem uma ferinha que não gosta nada da ideia de dividir espaço. Por mais que eu quisesse, não teria como levá-lo, até porque os caninos não costumam ser muito bem-vindos nos coletivos.

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Mas o meu simpático companheiro peludo precisou despedir-se de mim, para seguir em busca de outras amizades. Ele foi acompanhando os passos apressados de um senhor que passou por nós, que provavelmente seguia em direção ao ponto, para pegar o ‘trem das onze’ dele. Pouco depois, vi o meu coletivo fazer a curvinha e entrar na avenida. Luzes apagadas e somente eu e um outro rapaz como passageiros lá dentro. Como é bom fazer amigos!

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