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(Des)orientação

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Tenho uma amiga que sempre usa uma pulseira no braço direito. O objeto marca a diferença entre os lados direito e esquerdo. Ela me disse que a necessidade aumentou quando ela começou a aprender a dirigir. O tom imperativo do GPS, que dava a orientação em cima da hora de fazer a conversão, gerava uma confusão na cabeça dela e, consequentemente, a travava. O aparelho mais desorientava do que ajudava. Para quem lida com o trânsito pouco cortês de Juiz de Fora, é um risco ampliado.

A pulseira facilitou muito a vida dela, que tornou o hábito de receber orientações sobre a direção que deve tomar mais fácil. A tecnologia facilitou bem as coisas. Quem tem alguma dificuldade e precisa ficar contando os ponteiros dos relógios analógicos, por exemplo, tem a opção de escolher um modelo digital para que a informação tenha uma leitura mais rápida. Há, também, quem tenha dispensado o relógio e adotado exclusivamente a tela do celular. A necessidade faz o sapo pular, e cada um faz à sua maneira.

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Mesmo com todas essas ditas facilidades, há outras estratégias que permanecem muito eficientes – na maioria das vezes. Tenho dificuldade para gravar nomes de ruas, e costumo gravar os lugares por meio de referências. No Centro, se me perguntarem qual é a Rua Marechal Deodoro, a referência é a presença do prédio dos Correios e do PAM-Marechal. A Mister Moore é o endereço da minha lanchonete favorita, então, desse modo, cada ponto se revela, por meio dessas pegadas afetivas que deixo.

Como são referências pontuais, que fazem sentido para mim, mas não respondem corretamente às pessoas que não conhecem bem a cidade, um dos receios que carrego comigo é o de que me peçam informações sobre endereço. Não foram poucas as vezes em que respondi que não era da cidade, para evitar deixar a cabeça do interlocutor ainda mais perdida. Em algumas, tentei explicar o caminho para as pessoas, e deixo aqui minhas mais sinceras desculpas caso eu as tenha feito chegar ao local errado.

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Indicar o caminho só com direita, esquerda, sobe, desce, é complicado. Para mim, as referências são mais eficientes. Contudo, nem sempre o que funciona para mim, vai funcionar para outra pessoa, e está tudo certo. Fiquei feliz dia desses, porque precisei ir à farmácia. Um caminhoneiro fez sinal para mim e perguntou onde ficava uma rua. Pela primeira vez, com toda a convicção, soube apontar para o logradouro e disse, orgulhoso de mim mesmo: ‘siga em frente e, no sinal, vire à direita’. Sem margem para qualquer outra interpretação. Orientação simples e direta, algo raro para alguém tão prolixo.

Na minha cabeça, eu já tinha traçado pelo menos umas quatro referências que se encaixariam nas minhas estratégias, mas acho que para ele, aquela orientação curta e objetiva seria mais certeira. Foi um exercício difícil, pensar em como o outro vai entender o que falamos é complicado. A melhor parte disso tudo, no entanto, é saber que ele chegou ao destino pelo caminho correto, sem enganos, assim espero.

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