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Fazendo as pazes

Foto: (Renan Ribeiro)

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Fazemos negociações esquisitas com a nossa própria consciência. Só a lembrança da sensação de ardência provocada por horas de exposição desprotegida ao sol faz a pele enrubescer. A camada de tecido epitelial queimada que se solta do corpo como um plástico velho faz buscar andar pela sombra, sempre que a escolha é viável. Raios solares são bem-vindos, quando há a proteção de grossa camada de filtro, ou quando ocorre o esquecimento e só resta lidar com as piadas e a dor. É nesse momento que recorremos às chantagens: “só mais um pouco, não vai fazer mal”. É batata! A vermelhidão e a dificuldade de encostar nas coisas vêm em seguida.

Com a pandemia, dentro de casa, até quem tem mais afinidade com o mundo da lua, em algum momento, pode se perceber admirador da resiliência do dito astro-rei. As mudanças de formato da lua sempre foram um belo convite para os olhos. Embora o sol também atraia as atenções, é difícil olhar diretamente para ele. Mesmo assim, ele permanece lá no alto, inabalável, lançando seu calor sobre as nossas frontes, completamente indiferente às nossas vontades.

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Chegou o momento em que o sol se tornou um companheiro. Ele entra pela fresta da cortina logo cedo. Sua forma de despertar costuma ser suave. Embora no verão ele não tenha dó de ninguém. Cumpre sua trajetória diária bem diante da janela, lembrando que, às vezes, é preciso olhar lá para fora. Quando não vem, até quem prefere sua ausência, tem um assunto com o qual se ocupar.

Com o tempo, ficou fácil entender o porquê dos aplausos quando ele se retira. Esse se tornou um dos únicos espetáculos possíveis fora do mundo virtual. Até para quem sofre com a falta de aptidão para a localização geográfica, ele se torna guia.

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Há que se reconhecer que o sol ensina, dia após dia, a lidar com tudo o que vem recebendo luz e com o que permanece na penumbra, com o que gera calor e como lidar com a frieza. Indicando nitidamente o que traz conforto e o que queima. Agora não há mais como se fechar nas reclamações puras e não reconhecer a generosidade dessa estrela, que sempre exerceu o seu protagonismo, mas nem sempre desfrutou desse status.

O que o sol conta agora, reiterando a ciclicidade da sua existência, é a certeza de que não vamos ficar entregues às sombras. Ele mostra com sua presença dourada que é preciso confiar no amanhã que nasce todos os dias.

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