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Entrar para a história

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O nosso ‘mundinho’ tem estado monotemático. As palavras se repetem, volta e meia estacam novamente, como se andássemos em círculos. Cada um lida com a crise sanitária de uma forma. Percebemos alguns comportamentos entre os que nos rodeiam. Destaco dois: alguns dão sequência às suas atividades sem deixar transparecer sentimentos, procuram certa distância do problema, buscam levar as coisas da maneira mais prática e natural possível. Outros, são afetados por cada notícia, com as medidas que são anunciadas, com os efeitos que são notados em cada detalhe.

Digo de forma particular, que aqui, nos sentimos afetados. Uma conversa com uma grande amiga despertou a ideia de que o período de pandemia é algo que vamos levar para o resto da vida. Depois que -se tudo correr bem e torcemos muito por isso- estivermos devidamente imunizados e pudermos, pouco a pouco, retomar as atividades que tínhamos antes, tudo o que vivemos até aqui seguirá conosco de alguma forma.

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No momento, abrir o boletim epidemiológico diariamente é pensar no sofrimento de cada família, de cada profissional que precisou informar para algum familiar uma perda inestimável, nas história interrompidas pelo luto. É impossível conviver bem com a ideia de que, em pouco mais de um ano, 300 mil brasileiros se tornaram vítimas fatais de uma doença, quando a tragédia poderia ser evitada com esforços coletivos. Haveria luta de toda forma, mas era possível evitar que a catástrofe chegasse a esse nível. O mundo podia não estar preparado para algo assim, mas podia ter se organizado melhor.

Dói olhar para o lado e ver a quantidade de trabalhadores desalentados, o número de pessoas em vulnerabilidade aumentando, a quantidade de imóveis vazios nas áreas comerciais da cidade, onde antes, havia vida, trabalho e movimento.

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Já perdi o sono algumas vezes ao longo da pandemia, isso ocorreu, principalmente, quando fiquei sabendo de familiares, amigos e pessoas próximas que contraíram o vírus e até mesmo de pessoas próximas que morreram. Já senti uma impotência absurda, por não ter como oferecer ajuda que não fosse uma palavra, já que a presença e o abraço, que eu poderia levar em outras épocas, hoje representam risco.

A intenção aqui não é desanimar ninguém ou deixar ninguém mais afetado do que esteja. O que é preciso dizer é que as dores coletivas e individuais não passam batidas ou indiferentes. Sentimos o peso e a gravidade de cada situação. Todos os relatos que chegam nos atravessam e machucam.
No futuro, vamos contar toda essa história aos que vierem. Por meio das nossas palavras, eles vão saber das dores e dificuldades que esse momento tem representado. Torço para que eles consigam identificar nossas falhas e possam fazer melhor. Que tenham ferramentas melhores que as nossas para lidar com tudo. Que a gente saia de todo esse caos e dessa angústia, que possamos recobrar o ânimo, deixar essa exaustão coletiva para trás.

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Mas que, ao mesmo tempo, não esqueçamos do que passou. Que a gente lembre desse período como um alerta, para sempre reconhecer a importância de manter o cuidado, não esquecer das vidas que foram perdidas, dos esforços que foram tomados e lutar para que não voltemos a ver nada semelhante. Eu quero conseguir voltar a ter outros assuntos, contar outras histórias, mas ignorar o que fere, nesse momento, não é uma opção.

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