Conexão


Por Renan Ribeiro

25/09/2020 às 07h00

Foi sábado. Antes que o relógio despertasse, a cabeça já estava em atividade. O peso da semana que estava nas costas desabou todo de uma vez. O efeito era desagradável. Um desânimo brutal. Todos os acontecimentos de dentro e de fora formavam um turbilhão inquieto na mente. Enquanto a cabeça corria, indo muito longe, o corpo não estava minimamente a fim de acompanhar. Exigia que eu permanecesse em repouso.

Foi um daqueles dias em que nem a gente se aguenta. Tudo parece chato, nada chama a atenção, nada motiva a nada. Me levantei depois de vencer a resistência do corpo que ainda insistia na inércia. Me arrastei o dia todo. Desde cedo soube que a faxina que marquei na minha cabeça não aconteceria. Não pelas minhas mãos, pelo menos.

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O livro que eu demorei a pegar para ler, por não ter tempo hábil, ficou me chamando na mesa do quarto. Mas nem para ele eu tinha energia. Nem a música, que geralmente consegue ter algum efeito que me leve a estar mais presente, funcionou dessa vez.

O dia passou rápido. A prostração continha cansaço, tristeza, preocupação. Sensações às quais acredito que boa parte dos brasileiros têm acesso quase que diário ultimamente. Nem ao celular fiquei atento. Mas em algum momento, resolvi dar uma conferida na tela, mais para verificar se havia algo importante a ser respondido, do que propriamente para passar tempo em aplicativos e redes sociais.

Eis que abro uma mensagem amiga. Ela indicava uma matéria que eu gostaria de ler. O contato repentino e carinhoso foi certeiro. Me lembrei de que em conversas anteriores, a mesma amiga tinha sugerido um filme. Ela tinha usado um “Ma-ra-vi-lho-so!” para descrever a obra. Foi o sinal do qual eu precisava. Como estava sem paciência para outras coisas, resolvi conferir.

Já tive várias provas na vida – que nem eram necessárias – de que pessoas queridas sentem quando precisamos de algo. Essas conexões que captamos sem perceber e, quando vemos, oferecem exatamente o que a outra pessoa precisava naquele momento específico. Quando o filme acabou, o meu ânimo era outro. Fui dormir mais leve, com outras ideias gravitando na mente.

No dia seguinte, a primeira providência foi ler a outra indicação dela. Mandei mensagem emocionado, para agradecer. Talvez, ela não tenha noção do alcance do gesto que teve. Acho que ao tomar a iniciativa de falar, fazer algo, ou indicar qualquer coisa quando nos lembramos de alguém, não imaginamos o quanto aquele contato pode ser importante. Principalmente em um momento como esse.

Logo, se existe um bom conselho possível para esse período, é não deixar de fazer contato quando algo assim vier à mente, mesmo que pareça algo bobo, ou pequeno. Pode ser que do outro lado da conexão, essa miudeza seja exatamente o que alguém precisa para ter o seu dia completamente modificado.

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