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Conexão canina

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Crianças agindo naturalmente têm a incrível capacidade de causar surpresa. A campainha tocou duas vezes, gesto de quem demonstra alguma pressa em ser atendido. Desloquei-me rapidamente para atender. Abri a janela da porta e me dei conta de que quem batia era um pequeno vizinho. Com a máscara tapando metade do rosto, soube de quem se tratava pelo crachá que ele carregava. Tinha acabado de chegar da escola. Ele foi direto: “Oi. Eu vim ver a Lolita”. Normalmente, Lolita, a mascote da casa, seria a primeira a se posicionar para recepcionar quem quer que chegasse. Mas o dia estava agradavelmente propício para a preguiça: neblina fina, friozinho, ela se manteve imóvel dentro da cama.

Eu a chamei algumas vezes, enquanto pegava a chave para abrir a porta. Ela levantou-se meio desconfiada e veio dar o ar da graça. Os dois fizeram a maior festa juntos. Brincaram tão pouco que, quando o pai do garoto interrompeu a brincadeira para chama-lo de volta para casa, ela voltou a deitar e lá permaneceu por boa parte do dia.
Acredito que ela tenha sentido falta de receber visitas durante o tempo de distanciamento mais rígido e parece que ficou mais ciumenta também com o tempo. Quer atenção para ela e, para isso, pula nas pernas, late, chora, faz de um tudo.

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Foi essa visita que fez com que a gente percebesse que Lolita tem uma pequena rede de ‘amigos humanos’ no bairro. Ela gosta de passar algum tempo na parte de fora do apartamento, prestando atenção no movimento da rua. Em época de aula, havia sempre uma ou outra criança uniformizada que passava e deixava um carinho para ela, ganhando um gingado de patas traseiras e, vez ou outra, uma lambidinha.

Um jovem que, em alguns dias, se excede no uso de álcool aparece para bater papo com ela. Quem lê pode achar exagero, mas não é, ele gosta de conversar com a cachorra, embora ela o tenha deixado falando sozinho em determinadas ocasiões.

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Tem também uma senhorinha que tinha a rua de casa como caminho para o trabalho. Ela sempre trazia na bolsa um saquinho com alguns grãos de ração, com os quais fazia questão de mimar Lolita, que se rendia aos petiscos sem pensar duas vezes. Uma moça que mudava de calçada só para passar a mão na cabeça de Lola, sempre com um sorriso no rosto.

Há quem tenha medo da empolgação que ela demonstra quando se aproxima. Ela perde a mão no latido, fica muito agitada, mas quem consegue ir além desses sinais, ganha uma amizade muito sincera. Muitas pessoas já se assustaram com o jeitinho bruto dela de ser, que também pode esconder o carisma que ela tem. As crianças costumam ser bem mais corajosas que os adultos. Meu pequeno vizinho não se contém. Sempre que pode, se aproxima de Lolita. Nós adoramos quando as pessoas param seu trajeto e não têm receio de fazer um afago nela. Admiramos cada contato do alto da escada, com um sorriso bobo derretendo no rosto.

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