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“Tem, mas acabou”

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Passei rapidamente por vídeos nas redes sociais que falavam sobre objetos e costumes que nos identificam como brasileiros, sem que tenhamos que confirmar verbalmente nossa naturalidade. Há uma gama de pérolas que se pode citar quando pensamos em alguns dos símbolos que estão presentes no cotidiano de boa parte da sociedade, dos lares mais simples aos endereços mais abastados.

Posso citar de cabeça, por exemplo, a presença do filtro de barro em boa parte das casas que frequento. Aprendemos nos livros de ciências que a água é insípida, inodora e incolor. Mas a água do filtro de barro é diferente. Fora o fato de que é uma invenção nossa, reconhecida mundialmente como a melhor do mundo. O que, fatalmente, lembra a frase atribuída a Leonardo da Vinci, que diz algo como “A simplicidade é o último grau de sofisticação”.

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Também me recordo de um conjunto de louças muito comum de encontrar em residências, com copos, pratos e outras peças de vidro marrom transparente, que aparentemente são mais resistentes a quedas e permanecem presentes na vida de muitas pessoas, ou até mesmo o chamado copo americano, que serve da cerveja ao café com leite em bares e padarias espalhadas por todo o país.

Engraçado perceber que fora das redes, mesmo sem contato com os modismos e apelos que são replicados exaustivamente, hora ou outra, a percepção desses pequenos atributos nos surpreende. Dia desses, saímos meus pais e eu para uma consulta médica. Não voltamos diretamente para casa, porque precisávamos resolver outras coisas. Não me recordo exatamente do que meu pai precisava em uma das lojas na qual precisou entrar. Mas nos encontrou no carro rindo da resposta que recebeu: “Tem, mas acabou”.

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Na hora, pensei: como explicaria para um estrangeiro uma expressão dessas? Meu pai entendeu instantaneamente o que o vendedor queria dizer, agradeceu e saiu da loja. Mas será que alguém que não está acostumado com a nossa cultura não ficaria perdido? Ouvir e entender uma expressão como essa é algo que, para mim, se encaixa em algo que mostra que somos brasileiros, sem precisar afirmar.

Tem outras frases que eu amo ouvir e amo dizer, que causam o mesmo efeito. Entre elas: “não repare a bagunça”, sempre que alguém chega em casa. “Desculpe qualquer coisa” ou a variante “Desculpe a bagunça” quando está se despedindo também é maravilhoso. “É simplesinho, mas é de coração” quando entregamos uma ‘lembrancinha’ eu queria ter patenteado, de tanto que eu gosto. “O preço é R$20, mas eu faço para você por R$15.” Chamar todo e qualquer vendedor de moço/moça, quando não sabe o nome. Cada uma dessas coisas, para mim, falam muito sobre ser brasileiro. Sem cada um desses itens, provavelmente, a experiência não seria a mesma. Não tem como aceitar o complexo de vira-latas quando conseguimos perceber e valorizar cada uma dessas preciosidades.

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