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Pequeno adeus

Foto: Renan Ribeiro

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No ponto de ônibus, de manhã cedo, a neblina pesada cobria o ar. Era cedo e estava bem frio. O relógio gritava o atraso e cobrava de maneira imperativa uma atitude urgente. Permanecer naquele lugar ou tentar outro meio de transporte. Não poderia demorar na escolha do método, ou perderia o compromisso.

De longe, um borrão em movimento ganhou a forma de uma mulher que levava duas meninas: uma maiorzinha, que andava de mãos dadas com a moça e uma pequena que era carregada no colo. A menor estava com o queixo pousado no ombro dela, com uma carinha de sono que dava dó.

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Mesmo usando máscara, ao vê-la, abri um sorriso. Acho que ela entendeu, porque retribuiu o meu gesto com um aceno, que não era daqueles rápidos de quem cumprimenta um completo desconhecido. Ela demorou e se agitou, como quem encontrava alguém de quem gostava. Endireitou a postura e continuou me cumprimentando com aquele aceno, até desaparecer por completo no meio daquela massa branca e densa. Ainda fiz um ou dois movimentos para tentar acompanhar mais um pouco o deslocamento das três, mas a neblina não permitiu.

Pode ser que aquela criança tenha me confundido com outra pessoa, mas eu tenho a intuição de que não foi isso o que ocorreu. Ela me viu, me enxergou. Criamos um laço de cordialidade, sem que fosse preciso trocar uma palavra. Aquele olhar brilhante, no meio de toda a cena opaca foi o suficiente para iluminar aquela manhã, aquecer, como o Sol que faltou no céu.

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Algo de especial brilha em nós quando somos tocados pelo afeto, ainda que seja assim, de repente. Na verdade, quando algo assim nos toma, tudo parece ficar um pouco diferente. Até a agitação que eu experimentava por estar atrasado passou, assim como o ônibus que chegou e me levou para o meu compromisso na sequência. Ele não tinha aparecido no aplicativo, mas foi providencial, assim como aquele pequeno adeus.

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